Jodie Foster ganhou o Globo de Ouro 2021 de atriz coadjuvante e Tahan Rahim (série O Paraíso e a Serpente) concorreu como melhor ator pela atuação em O Mauritano, também indicado a cinco BAFTAs (o Oscar britânico). Duas vezes premiada com o Oscar, por Acusados (1988) e O Silêncio dos Inocentes (1991), Jodie filma cada vez menos, então é um privilégio vê-la em cena. Já o francês Tahar Rahim dá passos firmes em direção ao topo dos grandes astros da nova geração. Sabe bem que o viu em O Profeta (2009), na assombrosa performance que o revelou ao mundo.
Tudo isso para dizer que O Mauritano é o tipo de filme que demanda uma dupla desse nível para funcionar, porque a ação aqui é mental. Embora seja um drama de tribunal, o enredo foca nos bastidores que antecedem o julgamento. Em novembro de 2001, no caos mundial instalado após o fatídico atentado de 11 de Setembro, o engenheiro Mohamedou Ould Slahi (Tahar Rahim) é preso em casa, na Mauritânia, em uma operação orquestrada a pedido dos Estados Unidos. A acusação: ser membro da Al-Qaeda, ter contato com Osama Bin Laden e ter recrutado terroristas para o ataque às Torres Gêmeas.
A saga jurídica e pessoal do prisioneiro, detido em Guantánamo, é o estofo do filme. De um lado, está a ativista pelos direitos humanos e advogada de defesa Nancy Hollander (Jodie Foster) – Shailene Woodley (Os Descendentes) faz sua assistente. Do outro, temos o Tenente Coronel Stuart Couch (Benedict Cumberbatch, A Batalha das Correntes), que representa a acusação do governo norte-americano. Entre eles, a ética e os meandros da Justiça. O próprio Slahi narrou seu martírio em O Diário de Guantánamo, best-seller autobiográfico escrito em cativeiro.
Incapaz de conseguir provas para condená-lo, o governo americano o submete ao terror para arrancar-lhe uma confissão. Privação de sono, hipotermia, abuso sexual e psicológico estavam entre os métodos que, quando revelados, colocaram Guantánamo no centro de um escândalo internacional. O diretor Kevin Macdonald (O Último Rei da Escócia) venceu o Oscar de melhor documentário por Munique, 1972: Um Dia em Setembro, sobre o atentado terrorista palestino durante as Olímpiadas de Munique. Ele recebeu a estatueta em 2000. Mal sabia que, no ano seguinte, o mundo seria abalado por outra tragédia também ocorrida em setembro.
Em O Mauritano, o cineasta se atém aos fatos e deixa por conta do elenco valorizar o drama humano. Tahar Rahim é excelente em papéis dúbios. Seu Slahi é um sujeito simpático e afável, mas guarda um mistério no olhar. A incerteza quanto a sua inocência é um motor narrativo importante. O medo tomou conta do mundo depois do 11 de Setembro de 2001, e a sede de vingança naquele primeiro momento tornou a realidade um tanto turva. Dá para entender o calvário de Slahi, mas não dá para justificá-lo.
Trailer
Ficha Técnica
Título: O Mauritano/The Mauritanian
Direção: Kevin Macdonald
Duração: 129 minutos
País de Produção/Ano: Reino Unido/EUA, 2021
Elenco: Tahar Rahim, Jodie Foster, Benedict Cumberbatch, Shailene Woodley, Clayton Boyd
Distribuição: Film &, TV House
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