Em tempos de #metoo e empoderamento feminino, não seria demais imaginar que a nova adaptação do clássico suspense de horror O Homem Invisível teria uma mulher na pele do assustador cientista-monstro. Escrito por H.G. Wells (Guerra dos Mundos) em 1897, o livro ganhou inúmeras versões para o cinema e a TV. A primeira, de 1933, tinha Claude Rains como o homem invisível. Felizmente, o diretor e roteirista australiano Leigh Whannell (Sobrenatural: A Origem) imaginou algo bem diferente para a personagem da talentosa Elisabeth Moss (Rainhas do Crime). Ele trouxe a história para o presente e deslocou o foco narrativo para uma das possíveis vítimas do cientista.
Agora sem os famosos adereços - chapéu, óculos escuros e bandagens no rosto -, o cientista Adrian Griffin (Oliver Jackson-Cohen, O Que De Verdade Importa) veste um macacão óptico. Ele é também o marido abusivo de Cecilia Kass (Elisabeth Moss), que começa o filme numa premeditada fuga da luxuosa e moderna mansão isolada do casal. Apavorada e traumatizada, ela pede abrigo ao amigo policial James (Aldis Hodge, Jack Reacher: Sem Retorno), divide a cama com a filha dele, Sidney (Storm Reid, Olhos que Condenam), e implora que a sua única irmã Emily (Harriet Dyer) não a procure.
Quando Emily lhe traz a notícia do suicídio de Adrian, e o irmão dele lhe comunica da milionária herança que recebeu, Cecilia duvida da morte. Logo depois, descobre, da maneira mais aterradora, que tinha razão: ela sente a presença de alguém “invisível” em seu quarto, como um leve sopro na nuca, e sabe de quem se trata. Nós também. E mais ninguém. É de arrepiar o corpo inteiro. O realismo desconfortável, doloroso e perturbador dessa sequência, paradoxalmente construída com um rigor cênico quase matemático, se intensifica na conjugação da fragilidade de Cecilia.
Submetida a abusos e ataques cada vez mais violentos a repulsivos, ela enfrenta o descrédito da irmã, de James, dos policiais e médicos, próximos de se tornar as próximas vítimas de Adrian (a invisibilidade ganhou ares bem mais tecnológicos e assustadores). Na etapa final, Whannell carrega na ação e o filme perde em sugestão e sutileza, e abre-se para um epílogo questionável, embora coerente. Abuso de maridos, amantes, familiares e chefes tem sido tratado no cinema há décadas, mas a abordagem do diretor e a arrebatadora performance de Elisabeth são diferenciadas, trazem uma intensidade rara que dá a O Homem Invisível uma relevância atual e universal.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: O Homem InvisÃvel/The Invisible Man
Direção: Leigh Whannell
Duração: 124 minutos
PaÃs de Produção/Ano: EUA/Austrália, 2020
Elenco: Elisabeth Moss, Aldis Hodge, Storm Reid, Michael Dorman, Oliver Jackson-Cohen, Harriet Dyer
Distribuição: Universal Pictures