Não é de hoje que vale tudo para viralizar nas redes sociais. Desde um tombo engraçado, muitas vezes falso para viralizar, até outro tombo em uma escada na cerimônia do Oscar, que também pode ser falso com o mesmo objetivo. O fato é que a informação está nas mãos do cidadão e nunca isso foi tão temido. A nova realidade desse 4º Poder criou um paradoxo e abriu brecha para uma dicotomia insana, onde a liberdade de se expressar caminha agora sob uma patrulha digna das páginas de George Orwell. Premiado no Festival de Gramado 2019, O Homem Cordial aborda uma perigosa faceta dessa “atualidade”, importante na discussão da sociedade, mas com resultado parcial. Assista e tire as próprias conclusões.
Paulo Miklos interpreta Aurélio, vocalista de uma banda de rock brasileiro de sucesso nas décadas de 80 e 90. Eles ensaiam a retomada em nova turnê, mas o público reage com copos e garrafas atirados ao palco a uma música que incita a revolta, aparentemente, contra a polícia. Nos bastidores, descobre-se que Aurélio foi filmado em uma confusão, envolvendo um menor de idade, que pode ter resultado na morte de um policial. O fato de ter defendido o garoto, agora desaparecido e acusado de assassinato, provoca cancelamento nas redes e na agenda de shows. A expulsão de um restaurante é só o início. Logo vem a tarja de assassino sobre sua imagem nas redes.
Uma situação de emergência coloca Aurélio sozinho e sem dinheiro pelas ruas paulistanas. Ele recebe ajuda de uma jovem jornalista disposta a investigar o caso, e reencontra um antigo membro do grupo (Thaíde). Nessa jornada madrugada adentro, o anti-herói vivencia uma experiência assustadora, registrada pela câmera nervosa do brasiliense Iberê Carvalho (O Último Cine Drive-In). O diretor assina o roteiro em parceria com o uruguaio Pablo Stoll, um texto ágil (soará "seco" para alguns) que resulta em um filme curto (cerca de 80 minutos), com direito a breve inversão na cronologia.
Segundo os realizadores, o título faz referência ao livro Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Hollanda, no qual “o homem cordial” não é aquele amável ou gentil, mas o que age pelo coração (do latim cordis), com paixão e afeto, e como essa coisa passional pode mascarar os conflitos e a violência na sociedade. A narrativa mistura temas como Fake News e cultura do cancelamento, com racismo e desigualdade social, mas não se aprofunda em nenhum deles. Se a ideia era provocar a reflexão, o que se vê, mais uma vez, é o protesto de sempre, que destila o ódio cego com o aditivo da polarização política. A trama poderia ter investido na questão do falso ou verdadeiro, da manipulação da informação e suas consequências, algo que agita o século 21.
Veja a seguir a entrevista com Iberê Carvalho, Paulo Miklos e Thaíde.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: O Homem Cordial
Direção: Iberê Carvalho
Duração: 83 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Brasil, 2019
Elenco: Paulo Miklos, ThaÃde, Dandara de Morais, Thalles Cabral, Theo Werneck, Fernanda Rocha, Bruno Torres
Distribuição: O2 Play