Obsceno, pornográfico, imoral e indecente foram alguns dos termos usados por países como Japão, Estados Unidos e Austrália para justificar o banimento de O Amante de Lady Chatterley. Impresso originalmente na Florença de 1928, o último livro do britânico D.H. Lawrence (1885-1930) foi publicado pouco depois na França, porém levou mais de 30 anos para chegar às prateleiras do Reino Unido. É também francesa a primeira versão para o cinema, de 1955, e de lá para cá foram dezenas. A mais recente, lançada pela Netflix, é um elegante amálgama de erotismo e romantismo.
A trama abre em tempos de Primeira Guerra, nas bodas da aristocrata Connie com o lorde Clifford Chatterley (Matthew Duckett), que em seguida vai para o front e dali volta paralítico e preso a uma cadeira de rodas. O jovem casal isola-se na propriedade dele no interior, com a intenção de remodelar o palacete e reinvestir na mina que pertence à família. Para Connie, um tédio e uma frustração. Agora impotente, Clifford revela-se desinteressado e machista a ponto de encomendar-lhe um herdeiro em um arranjo secreto. O affair com o guarda-caças Oliver, porém, não só burla regras sociais como de artificial não tem nada.
Em franca ascensão após o papel da Princesa Diana na série The Crown, Emma Corrin contracenou com o fenômeno pop Harry Styles em Meu Policial, também da Netflix, e faz uma Lady Chatterley com um pé no século 21. Dos figurinos, passando pela trilha sonora com toques de guitarra, até a determinação de se entregar à paixão, ela exala modernidade. A seu lado está Jack O’Connell (Memórias de um Amor), esse já com prêmios de atuação na prateleira. A dupla revelou em entrevistas ter contado com uma “consultora de intimidade”. As cenas de sexo e nudez são fortes, sensuais e, orquestradas ou não, fazem a tela pegar fogo.
Mérito, veja só, novamente de um francês. No caso, a cineasta Laure de Clermont-Tonnerre, que estreou em longas há pouco com o emocionante The Mustang (disponível em streaming). Ela leu o clássico romance em 2020, durante o lockdown na pandemia, e se disse tocada pela abordagem que D.H. Lawrence faz da conexão humana pela sexualidade, pela intimidade e pelo toque. Seu O Amante de Lady Chatterley celebra a linguagem corporal e o prazer sexual feminino. O roteiro é assinado por David Magee, indicado ao Oscar por Em Busca da Terra do Nunca (2004) e As Aventuras de Pi (2012).
O enredo reforça a perspectiva feminina pelo olhar de Connie e de duas mulheres que a rodeiam. Uma delas é Hilda (Faye Marsay), a irmã que tenta conscientizá-la das consequências morais de uma separação e da relação com alguém de classe inferior. A protagonista, contudo, está à frente de seu tempo. A outra é vivida pela grande Joely Richardson, que há 20 anos foi Lady Chatterley em uma minissérie para TV, e agora faz a Sra. Bolton, cuidadora de Clifford. Observadora discreta dos amantes, ela põe os pingos nos is diante do falatório das outras funcionárias. “Não quero ouvir nada contra eles, essa é uma história de amor”. Ponto final.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: O Amante de Lady Chatterley/Lady Chatterleys Lover
Direção: Laure de Clermont-Tonnerre
Duração: 126 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Reino Unido/EUA, 2022
Elenco: Emma Corrin, Jack O Connell, Matthew Duckett, Joely Richardson, Faye Marsay, Ella Hunt
Distribuição: Netflix