segunda, 23 de junho de 2025
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Napoleão


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Recentemente, um chapéu bicorne de feltro, que pertenceu a Napoleão Bonaparte, foi vendido em um leilão na França por € 1,93 milhão, cerca de R$ 10,3 milhões. A notícia da coluna Uma Boa História, do jornal O Estado de S. Paulo, revela que o imperador francês tinha mais de 120 chapéus, uma das muitas excentricidades que mantém seu fascínio inabalável 200 anos depois de sua morte. E não só no universo dos colecionadores de relíquias.

Napoleão, a superprodução de Ridley Scott estrelada por Joaquin Phoenix, é uma obra monumental. Os US$ 200 milhões do orçamento estão visíveis em cada segundo das quase três horas de duração. E o cineasta promete uma versão estendida de quatro horas para ser exibida pela Apple TV+. A original já está disponível nas plataformas de streaming. 

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Esqueça o CGI. A recriação das batalhas é feita na raça, com milhares de extras e o vigor de um autor que honra o cinema clássico ao realizar um épico raiz. A tecnologia lhe serve para levar múltiplas câmeras para os lugares mais impossíveis e fazer tomadas de tirar o fôlego. É invejável a vitalidade desse artista que acaba de completar 86 anos. Napoleão é cinema espetáculo de primeira, mesmo que a narrativa nem sempre acompanhe o pique.

Embora a fama tenha vindo das ficções científicas Alien – O 8º Passageiro (1979) e Blade Runner: O Caçador de Androides (1982), é preciso resgatar sua estreia em longas para encontrar o embrião de Napoleão. Em Os Duelistas (1977), Keith Carradine e Harvey Keitel vivem dois oficiais do exército de Napoleão que desafiam as regras ao se enfrentar em uma série de duelos, com as Guerras Napoleônicas no pano de fundo. O próprio diretor disse em entrevista que fazia todo sentido retornar ao período, agora com o imperador em primeiro plano.

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Não é a primeira vez que Joaquin Phoenix encarna um imperador sob a batuta de Scott. Ele foi indicado ao Oscar de coadjuvante pelo odioso Commodus, o imperador romano que persegue Maximus, o general interpretado por Russell Crowe no premiadíssimo Gladiador (2000). A dimensão agora é outra. Com um Oscar nas mãos pela acachapante atuação em Coringa (2019), o ator assume Napoleão em toda a sua complexidade. Até empatia o notório tirano é capaz de provocar. O problema é que o enredo, ambicioso demais no escopo histórico que abraça, lhe dá pouco tempo de introspecção.

Escrito por David Scarpa, em nova colaboração com Scott depois de Todo o Dinheiro do Mundo (2017), o roteiro parte da morte de Maria Antonieta na guilhotina da Revolução Francesa, em 1793, período em que Bonaparte era um modesto, mas nem tanto, oficial da artilharia. A trama percorre a ascensão de general a cônsul, a lendária autocoroação como imperador em 1804 e vai até o exílio e morte na Ilha de Santa Helena, em 1821, aos 51 anos. Scott costura essa linha do tempo com ponto duplo. Reconstitui confrontos célebres como o das Pirâmides, na Expedição Egípcia, a malfadada Invasão Russa e a derradeira Batalha de Waterloo. Em paralelo, esmiúça a conturbada relação com Josefina, a primeira esposa e seu grande amor.

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Indicada ao Oscar por Pedaços de uma Mulher (2020), a britânica Vanessa Kirby faz um dueto magistral com Phoenix, na pele da jovem viúva exuberante, de ar trágico e sangue quente, que cutucava as fragilidades do todo poderoso e o desmontava emocionalmente. Napoleão tratava os dois enteados como filhos e o rompimento só ocorreu porque Josefina não conseguiu gerar um herdeiro. É um romance genuíno, mas cheio de nuances que se perdem na dificuldade da produção em dar conta de tudo. Porque o diretor também investe na seara política e militar, na pintura de Napoleão como exímio estrategista e habilidoso no trato com outros líderes, fossem eles aliados ou inimigos. Foi preciso acelerar e comprimir muita coisa para caber em um longa-metragem, e essa cadência está longe de ser a ideal.

Napoleão é vítima de escolhas tão ousadas quanto desmedidas. Com muitos fatos para ticar, o diretor deixa personagens e pontas soltas. É pequena, por exemplo, a participação de estrelas francesas, como Tahar Rahim (O Mauritano) e Ludivine Sagnier (série Lupin). Há quem critique a ausência da língua francesa. Ora, é uma coprodução entre Reunido Unido e EUA, com um britânico no comando e elenco internacional. Melhor os raros franceses em cena colocarem o inglês para funcionar que a maioria se arriscar no francês na base da fonética e com sotaque sofrível. Homem e filme, Napoleão é maior que essas pequenezas. Homem e filme, Napoleão está longe da perfeição. Homem e filme, Napoleão é gigante.




Trailer

Ficha Técnica

Título: Napoleão / Napoleon
Direção: Ridley Scott
Duração: 158 minutos

País de Produção/Ano: Reino Unido, EUA, 2023
Elenco: Joaquin Phoenix, Vanessa Kirby, Tahar Rahim, Rupert Everett, Ben Miles, Ludivine Sagnier, Mark Bonnar
Distribuição: Sony Pictures

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Suzana Uchôa Itiberê

Suzana Uchôa Itiberê

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Cinéfila incorrigível, jornalista de plantão, crítica de cinema (não muito) chatinha e editora caprichosa. Cria do jornal O Estado de S. Paulo, trabalhou nas revistas TVA, Set, Istoé Gente e foi cofundadora da revista Preview. Membro da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema).