quinta, 10 de outubro de 2024
Cinema Suspense Horror

Não Fale o Mal


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Não Fale o Mal é aflitivo. Daqueles suspenses psicológicos em que os perigos estão à mostra e as futuras vítimas são incapazes de enxergar. Mesmo quando caem em si, cometem o disparate de insistir no erro. Para quem gosta de respirar ao final, a catarse arranca entusiasmadas manifestações da plateia nos cinemas. Os fãs do original dinamarquês, de 2022, se incomodaram com atenuantes que a adaptação faz para paladares mais sensíveis. Mas do elenco, impecável, não há do que reclamar.

Desde que chamou a atenção como o fauno Mr. Tumnus em As Crônicas de Nárnia (2002), o escocês James McAvoy tem alcançado altas notas dramáticas. Do irrecuperável romântico de Desejo e Reparação (2007), passando pelo jovem professor Charles Xavier da saga X-Men, ao homem das 23 personalidades em Fragmentado (2016), ele nunca é menos que intenso. Seu olhar volta a “falar” e o que ele diz agora não é nada agradável.

Não Fale o Mal

O cenário inicial é a ensolarada Itália, onde duas famílias se conhecem por estar no mesmo hotel. McAvoy é Paddy, médico britânico casado com Clara (Aisling Franciosi) e pai de Ant (Dan Hough), garoto tímido que não fala porque teria uma deformidade na língua. A animação deles destoa do clã Dalton, formado pelos americanos Ben (Scoot McNairy), Louise (Mackenzie Davis) e Agnes (Alix West Lefler), menina ansiosa e dependente de seu coelho de pelúcia.

O primeiro fruto desse fortuito encontro é um convite de Paddy para receber os Dalton durante um fim de semana em sua casa campestre nos arredores de Londres. Louise hesita por não ter nenhuma intimidade com os anfitriões, mas Ben vê uma oportunidade de elevar o astral por estarem recém-imigrados no Reino Unido e em crise no casamento. O segundo fruto será uma inesquecível estadia, no pior dos sentidos.

Não Fale o Mal

O diretor e roteirista James Watkins entrega uma versão hollywoodiana que calibra tensão, sensualidade, drama e horror. Não é a primeira vez que o cineasta transforma uma viagem de lazer em luta pela sobrevivência. Em Sem Saída (2008), Michael Fassbender e Kelly Reilly viveram o inferno à beira de um lago em confronto com jovens arruaceiros. O agravante desta vez é a presença de crianças.

Agnes e Ant regulam na idade e travam amizade sem esforço. A rigidez de Paddy em relação ao menino gera desconforto, a ponto de Louise convencer Ben a ir embora. Sem muito spoiler, mas o coelhinho de pelúcia vira uma “pedra no meio do caminho” da salvação. É através das crianças, inclusive, que o público conhece o terrível segredo que deflagra o caos.

Não Fale o Mal

Quando os Dalton finalmente entram no embate com seus algozes, o diretor investe na boa forma de McAvoy, mais sarado do que nunca. O oponente direto de Paddy, porém, não será Ben, sujeito acovardado e sem atitude. Quem assistiu a O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio (2019) teve uma boa amostra da fisicalidade de Mackenzie Davis nas cenas de ação. Pois aqui é Louise quem arregaça as mangas para defender a família. O cineasta entra firme com sua câmera nos cômodos da decadente residência, que se transforma em um sinuoso labirinto de perseguição.

Não Fale o Mal testa a resistência do espectador, nem sempre pelo motivo certo. A convivência entre os casais rende cenas provocantes que estimulam o jogo de poder. Paddy e Clara simulam sexo oral durante um jantar e os abraços dele em Louise são mais apertados do que deveriam. A sensação de incômodo impulsiona o suspense. As frustradas tentativas dos Dalton de sair daquele lugar, porém, beiram o ridículo. A sanguinolência era esperada e é comedida se comparada ao filme original. Entre acertos e erros do enredo, sai ileso o elenco.  




Trailer

Ficha Técnica

Título: Não Fale o Mal / Speak No Evil
Direção: James Watkins
Duração: 110 minutos

País de Produção/Ano: EUA, Croácia, Canadá, 2024
Elenco: James McAvoy, Mackenzie Davis, Scoot McNairy, Aisling Franciosi, Alix West Lefler, Dan Hough
Distribuição: Universal Pictures

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Suzana Uchôa Itiberê

Suzana Uchôa Itiberê

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Cinéfila incorrigível, jornalista de plantão, crítica de cinema (não muito) chatinha e editora caprichosa. Cria do jornal O Estado de S. Paulo, trabalhou nas revistas TVA, Set, Istoé Gente e foi cofundadora da revista Preview. Membro da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema).

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