Gal Costa pediu pessoalmente à Dandara Ferreira que dirigisse sua cinebiografia. Ela havia sido sondada por outros interessados, mas confiava na cineasta, que já se debruçara sobre sua vida na série documental O Nome Dela é Gal, lançada em 2017. Lô Politi (Sol) entrou no projeto como roteirista e codiretora, e Sophie Charlotte (Rio do Desejo) embarcou antes mesmo de o texto estar pronto. Sua Gal vem de dentro para fora, em uma atuação discreta e potente. Não deu tempo para a cantora assistir ao filme. Até havia um primeiro corte, mas ela queria esperar pela versão final e ver na telona. Gal morreu de câncer em 9 de novembro de 2022, aos 77 anos.
No recorte feito pelas cineastas, a jovem Gal busca a própria voz em tempos de vozes caladas no Brasil da ditadura. Começa em 1966, com a chegada da baiana Maria da Graça ao Solar da Fossa, pensão baratinha no bairro de Botafogo, refúgio preferido de artistas naquela década. Em solo carioca já estavam Caetano Veloso (Rodrigo Lelis) e a companheira Dedé Gadelha (Camila Márdila), além de Maria Bethânia (vivida pela diretora Dandara) e Gilberto Gil (Dan Ferreira). A narrativa vai até 1971. “Além de fugir do clichê da cinebiografia, que normalmente termina no sucesso, esse período mostra a furada de bolha, quando a Gracinha passa a ser Gal Costa”, explica Lô Politi em entrevista ao OQVER, ao lado de Dandara e Sophie – vídeo a seguir.
A Gal “joãogilbertiana” que cantava baixinho, tímida, deixa aflorar a musa da Tropicália em “Divino Maravilhoso”, para só então encontrar a Gal Costa definitiva e independente do movimento. Luis Lobianco interpreta o empresário Guilherme Araújo e George Sauma faz o poeta Waly Salomão, fundamental na concepção da turnê Fa-tal - Gal a todo vapor (1971), que a consolidou como a voz da contracultura brasileira. Mais do que contextualizar o momento histórico, as imagens de arquivo elevam a ditadura a personagem, melhor, antagonista.
“Foi durante a montagem que tivemos um melhor entendimento dessa coluna vertebral, de que o fechar do cerco não era algo em paralelo”, comenta Sophie. “Era sobreposto, comprimia a potência dessa juventude, prendia e torturava, e esses artistas resistiram e colocaram sua voz pra jogo.” Sophie tem timbre suave e doçura no olhar. O som da sua Gal é mesclado ao da original. Meu Nome é Gal é contido como sua biografada e respeitoso com a intimidade que ela tanto prezava. “Não tinha porquê inventar uma Gal que não existe, ela era essa pessoa profunda e reservada”, afirma Lô. “O filme é uma declaração de amor de todos os envolvidos na produção”, conclui Dandara.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Meu Nome é Gal
Direção: Dandara Ferreira, Lô Politi
Duração: 118 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Brasil, 2023
Elenco: Sophie Charlotte, Rodrigo Lelis, Dandara Ferreira, Camnila Márdila, Luis Lobianco, Dan Ferreira, George Sauma
Distribuição: Paris Filmes