Depois do magnífico 1917, inspirado nas histórias que ouvia do avô veterano de guerra, o britânico Sam Mendes remexe na própria caixinha de memórias para realizar Império da Luz. É sua obra mais pessoal e a primeira que assina sozinho o roteiro, além de ter escrito especialmente para Olivia Colman (A Filha Perdida) uma protagonista moldada à sua mãe, Valerie Mendes.
Não interessa ao cineasta retratar a trajetória literária de sua progenitora, hoje com 83 anos e renomada romancista, poeta e autora de livros infanto-juvenis. Mendes se afasta da biografia e aciona a ficção para revisitar o trauma de assistir, como criança e filho único, ao desintegrar da saúde mental dela em surtos de bipolaridade. Esses pormenores de bastidores a gente descobre em entrevistas de divulgação.
Se a ideia era usar a arte para exorcizar o passado, o tiro sai pela culatra. Império da Luz é difuso. É um tributo ao cinema, onde Mendes diz ter encontrado a válvula de escape do caos doméstico. É um retrato da virada para a década de 1980, com os filmes e músicas que definiram sua juventude. E é também um golpe duplo e simutâneo no racismo e no machismo. A instabilidade mental da protagonista, Hilary, no entanto, é abordada com hesitação.
Ela é a gerente do Empire, um cinema antigo de uma cidade na costa sul da Inglaterra. A tela grande reinava naquele mundo analógico, à beira da entrada no digital. Mesmo assim, há um andar do complexo que está inutilizado. Ali conhecemos a rotina do pequeno grupo de funcionários, que inclui um projecionista (Toby Jones), jovens lanterninhas e o chef (Colin Firth). É na sala do patrão que Hilary presta “serviços extras” diariamente. A chegada do novato Stephen (Micheal Ward) injeta ânimo na deprimida Hilary. Mais do que isso, na verdade.
O improvável romance entre eles é crível apenas como conexão entre dois seres oprimidos socialmente. Ela por se curvar aos abusos de um patrão machista, ele por ser vítima constante de racismo. Em nova parceria com o cineasta, o diretor de fotografia Roger Deakins, vencedor do Oscar por 1917, emoldura essa gente sofrida com um visual esplendoroso, que rendeu à produção sua única indicação à estatueta. Império da Luz é nostálgico, comovente e bonito de se ver, mas fica na superfície. Mendes tateia e tateia temas espinhosos, mas não chega ao nervo do que poderia ser um grande filme.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Império da Luz / Empire of Light
Direção: Sam Mendes
Duração: 115 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Reino Unido, EUA, 2022
Elenco: Olivia Colman, Michael Ward, Colin Firth, Toby Jones, Tanya Moodie, Tom Brooke, Crystal Clarke
Distribuição: 20th Century Studios
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