O inglês David Attenborough (Mundo Natural), que se formou em ciências naturais em Cambridge, dedicou sua longeva vida a registrar a fauna e a flora privilegiada do nosso planeta Terra. Em seus 95 anos de vida e 70 de carreira, testemunhou, filmou e exibiu mais de 650 espécies e centenas de paisagens deslumbrantes, frequentemente dos confins dos cinco continentes. Agora, com David Attenborough e Nosso Planeta, ele faz e deixa seu testemunho sobre as belezas que filmou, a destruição da natureza que presenciou e alerta sobre o futuro que nos espera se a humanidade não repensar e transformar seu modo de vida atual.
O cineasta começou a filmar quando a indústria aeronáutica e do turismo começava a estimular voos internacionais. O mundo ficou acessível a todo mundo. Mas não foi apenas isso que mudou no quase um século de existência de Attenborough, e ele aponta os efeitos da mudança do modo de vida e do consumo no nosso habitat natural. A contagem do tempo no documentário é feita com três marcadores: o número de habitantes do planeta, os índices de emissão de carbono na atmosfera e a porcentagem de reservas naturais consumida, de 1937 até agora. Apesar de conhecida, a evolução é assustadora.
Com a qualidade excepcional das imagens característica de seu trabalho, Attenborough estabelece um diálogo com o espectador, olhando para a câmera. Avisa que ao longo dos 15 bilhões de história do planeta, houve pelo menos quatro eventos de destruição em massa, sendo o último o impacto do asteroide que dizimou os dinossauros. De lá para cá, no período do Holoceno, o planeta se refez, e nos últimos dez mil anos, viveu-se em paz e harmonia com a natureza e com as conquistas do homem, o único habitante inteligente na face da Terra.
De um prédio deserto, em Pripyat, cidade vizinha a Chernobyl, na Ucrânia, local do acidente nuclear ocorrido em abril de 1986, o documentarista começa seu testemunho. Há 35 anos, a cidade evacuada, e hoje abandonada, tinha 50 mil habitantes. A tragédia nuclear foi resultado de má administração e erro humano, explica Attenborough. Durante uma hora, ele ilustra seu relato autobiográfico, que também é uma biografia do planeta, com imagens e histórias de outras más administrações e erros humanos. A imagem de um orangotango que sobe numa árvore na floresta, e anos depois, de outro que sobe numa única árvore sobrevivente ao desmatamento, e pena para se equilibrar num único arbusto, vale por mil palavras.
Mas o testemunho privilegiado de David Attenborough na produção original da Netflix vem acompanhado de sua fé e de suas recomendações para salvar o planeta, que inclui políticas de controle de natalidade, aumento das áreas de reserva em terra e no mar, a utilização de recursos renováveis, dietas mais vegetais. A tomada aérea da Pripyat atual ao término do filme é emblemática. A única saída para o planeta, agora, conclui o ambientalista, é simples: a humanidade precisa não mais apenas de inteligência, mas sobretudo de sabedoria.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: David Attenborough e Nosso Planeta/David Attenborough: A Life on Our Planet
Direção: Alastair Fothergill , Jonathan Hughes, Keith Scholey
Duração: 83 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Reino Unido, 2020
Elenco: David Attenborough, Max Hughes
Distribuição: Netflix