Foram 19 indicações ao prêmio Emmy, com 10 estatuetas, entre elas de melhor minissérie, direção e fotografia na categoria. É a série com a maior nota da história do IMDB (Internet Movie Database), o mais popular e prestigiado site de informações sobre a indústria mundial do audiovisual, votado por cerca de 350 mil espectadores até setembro de 2019, quatro meses após a estreia.
Chernobyl também despertou reações em todo o mundo sobre questões contundentes como a gestão da produção da energia nuclear pelas nações, a relação entre governos, ciência e informação, a manipulação do poder, a tecnologia e o futuro do planeta frente às crises ambientais – da qual nosso país tem sido peça central com os eventos recentes ocorridos na Amazônia. São resultados notáveis para uma obra de ficção, uma série de cinco episódios de cerca de uma hora de duração cada.
Resultados assim costumam acontecer quando a obra de ficção se destaca, em primeiro lugar, na sua proposta narrativa e cinematográfica. O roteirista e criador da série Craig Mazin distanciou-se de outros trabalhos, como Se Beber, Não Case!, Partes II e III, e Uma Ladra sem Limites, e mergulhou na pesquisa sobre um dos mais graves acidentes nucleares já ocorridos no planeta. Teve acesso a informações de arquivos russos recentemente abertos para consulta e utilizou relatos do livro Vozes de Tchernóbil, da bielorrussa Svetlana Alexiévitch, premiada com o Nobel de Literatura. Mazin combinou os registros públicos e privados do que poderia ter sido uma das maiores catástrofes da história do planeta numa narrativa de suspense contínuo, com fôlego também para drama, policial e filme de tribunal.
Na direção, Johan Renck é outra boa surpresa. Prestigiado diretor de clipes musicais, com rápida passagem por episódios The Walking Dead e Breaking Bad, fez jus com louvor à proposta de Mazin. À frente de uma equipe impecável de produção, atenta aos mínimos detalhes de reconstituição de época, com destaque especial para a fotografia e a edição, Renck deixou brilhar não apenas seus três protagonistas, Jared Harris (Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras), Stellan Skarsgård (Mamma Mia! O Filme) e Emily Watson (A Teoria de Tudo), como todo o numeroso elenco.
Na madrugada de 28 de abril de 1986, o reator nuclear número 4 da central elétrica da usina nuclear de Chernobil, na cidade de Pripyat, na então União Soviética (hoje fronteira da Bielo-Rússia com a Ucrânia), explodiu, liberando na atmosfera radiação tóxica até países da Europa Oriental e Ocidental. O número de mortes ainda é impreciso dentre os milhares já registrados, de trabalhadores da usina e bombeiros que atuaram no incêndio que se seguiu à explosão, a vítimas de câncer até os dias atuais.
A série concentra-se principalmente nos bastidores da explosão e no período que se seguiu para combatê-la com o esforço heroico de centenas de pessoas. Investiga os antecedentes que levaram à tragédia e as consequências mais imediatas na população e no país. O fio condutor é o embate entre o cientista nuclear Valery Legasov (Harris), o burocrata Boris Shcherbina (Skarsgård) e a física nuclear Ulana Khomyuk (Emily), uma das poucas personagens inventadas em Chernobyl, como representação e homenagem ao numeroso coletivo de cientistas que participaram da contenção do desastre, do qual participavam várias mulheres.
Há talvez na gramatura dramática e apocalíptica da série um indigesto eco de O Sacrifício, obra-réquiem de Andrei Tarkovsky, do mesmo ano do acidente nuclear e da morte precoce do grande cineasta soviético.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Chernobyl
Direção: Johan Renck
Duração: 60 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Reino Unido/EUA, 2019
Elenco: Jared Harris, Stellan Skarsgård, Emily Watson, Jessie Buckley, Con O'Neill, Paul Ritter, Robert Emms, Barry Keoghan, David Dencik, Sam Troughton, Adam Nagaitis
Distribuição: HBO