Escritor de best-seller amarga crise de inspiração. Senhor doente o contrata para escrever suas memórias. O relato é brutal e improvável. Autor tenta descobrir o que há de real na história, enquanto vê sua vida pessoal afetada pela convivência com o idoso. Se você pensou “que trama batida”, tenha uma certeza: nada é previsível na minissérie francesa Borboletas Negras, um achado no catálogo da Netflix.
Nicolas Duvauchelle (Bala Perdida) e o veterano Niel Arestrup (Diplomacia) protagonizam o enigmático dueto. Adrien, o ghost writer, pede que o biografado siga a ordem cronológica, que começa como uma doce história de amor, nos anos 1950. O pequeno Albert se enamora de Solange à primeira vista. A garotinha ruiva é filha de alemães e sofre bullying na França do pós-Segunda Guerra. Ele a defende, os dois se aproximam e tornam-se inseparáveis.
Na juventude, a beleza de Solange (Alyzée Costes) aflora. Um evento traumático termina em morte, com Albert (Axel Granberger) novamente no papel do protetor da amada. Dessa vez, porém, a tensão traz junto o furor sexual. É o primeiro episódio de uma ciranda de sangue e sexo que faz lembrar Assassinos por Natureza (1994). O pulo do gato dos criadores Olivier Abbou e Bruno Merle é acionar um recurso em voga no cenário político atual: a criação de narrativas.
Adrien suspeita da saga narrada em detalhes escabrosos por Albert. Flashbacks refazem os passos dos amantes nas décadas de 1970 e 1980, quando comandavam juntos um salão de beleza. Nas férias, caíam na estrada atrás de vítimas. No presente, o enredo se bifurca em narrativas que podem ser paralelas, ou não. De um lado, o perfil de Adrien se desenha pela complicada relação com a esposa (Alice Belaïdi) e a mãe (Brigitte Catillon). Do outro, acompanha-se a rotina de uma dupla de policiais (Marie Denarnaud e Sami Bouajila), um deles ligado ao passado de Albert.
As borboletas negras do título se fazem notar nos seis episódios, e seu significado é revelado no mesmo ritmo que a verdade sobre Albert e Solange. O desfecho é um atestado do poder ilusório da narrativa. Montado o quebra-cabeça oficial, e a imagem é assustadora, a vontade é de rever a série para identificar possíveis pistas que passaram despercebidas. E elas existem, mas não vamos dar spoilers por aqui. Assistam!
Trailer
Ficha Técnica
Título: Borboletas Negras/Les Papillons Noirs
Direção: Olivier Abbou, Bruno Merle
Duração: 50 minutos
País de Produção/Ano: França, 2022
Elenco: Nicolas Duvauchelle, Niels Arestrup, Alyzée Costes, Alice Beläidi, Brigitte Catillon, Sami Bouajila, Marie Denarnaud, Lola Créton
Distribuição: Netflix
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Comentários (1)
A narrativa é subjetiva, sempre aquele que narra é o dono da verdade!
Cabe ao espectador identificar quem mente e quem diz a verdade. Será? ????
Até a personagem Solange me pareceu que foi interpretada por duas atrizes! Ou não.... ????
Obrigada pelo comentário Rosie. É uma série instigante mesmo.