O coração de Dom Pedro I está em solo nacional para a celebração do Bicentenário da Independência do Brasil. Preservada em formol, a relíquia é um dos símbolos do grito da independência dado por Pedro às margens do Rio Ipiranga, em 7 de setembro de 1822. Não há rastro do herói do Dia do Fico em A Viagem de Pedro, em que Cauã Reymond faz um mergulho sensorial no íntimo do imperador em uma página pouco conhecida dos livros de História.
A Viagem de Pedro é a produção mais ambiciosa da diretora e roteirista Laís Bodanzky, dos premiados Bicho de Sete Cabeças (2000) e Como Nossos Pais (2017). Está entre os seis longas brasileiros pré-selecionados para concorrer a uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2023. A trama acompanha a decida do ex-imperador ao inferno a bordo da fragata inglesa que o leva a Portugal, em 1831, nove anos depois de proclamar a independência do Brasil e com a popularidade no ralo.
Dom Pedro abdicara do trono em favor do herdeiro, o pequeno Pedro II, e volta à terra natal para destronar o irmão D. Miguel (Isac Graça) e coroar rainha sua filha, a também criança Maria. Com crises de epilepsia e impotente em consequência provável da sífilis, ele sucumbe à culpa, a seus demônios e delírios. A presença da esposa Amélia (Victoria Guerra) parece pouco importar. Falta-lhe o apoio de seus maiores estrategistas políticos, José Bonifácio e a imperatriz Maria Leopoldina, morta cinco anos antes.
É um homem frágil que vaga pela fragata na travessia pelo Atlântico. O ambiente claustrofóbico, fruto de uma primorosa direção de arte, torna-se ainda mais opressor por uma direção de fotografia que privilegia planos e enquadramentos fechados. Laís é de uma meticulosidade impressionante. Ali misturam-se membros da corte, oficiais, serviçais e negros escravizados, numa babel de línguas, culturas e posições sociais.
Nesse microcosmo aflora a força feminina, ferina na voz da escrava Dira, personagem de Isabél Zuaa (As Boas Maneiras). Observada secretamente por Pedro, ela descreve aos escravos como dar prazer à mulher em um monólogo de erotismo e lirismo efervescentes. É também na leitura das palavras angustiantes de Maria Leopoldina em uma carta, que Dom Pedro se vê amaldiçoado pela mulher com quem viveu um amor verdadeiro, e a qual submeteu à violência e infidelidades escandalosas.
Também produtor e idealizador do projeto, em parceria com Mario Canivello, Cauã Reymond está entregue de corpo e alma nessa egotrip alucinatória. “É quase a tormenta de Pedro”, diz o ator em conversa exclusiva com OQVER. “O filme dialoga com muitos assuntos que também são um reflexo do nosso país”. Confira no vídeo a seguir a íntegra da entrevista, em que o astro contextualiza o período histórico, fala do amor entre Dom Pedro e Maria Leopoldina, e relembra o delicado momento na vida pessoal por que passou durante as filmagens.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: A Viagem de Pedro
Direção: LaÃs Bodanzky
Duração: 96 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Brasil, 2022
Elenco: Cauã Reymond, Luise Heyer, Isabél Zuaa, Welket Bungué, Celso Frateschi, LuÃza Cruz
Distribuição: Vitrine Filmes
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