Em passagem relâmpago pelo Rio de Janeiro para divulgar A Mulher Rei, em 2022, Viola Davis visitou o Cristo Redentor, falou com a imprensa, jantou com celebridades negras e assistiu a show de samba na quadra da Mangueira. Arriscou-se no tamborim, porque remelexo que é bom deixou para as passistas. Mas o que a estrela de 57 anos faz com seu corpo como a general Nanisca é fora de série. A personagem é fictícia, porém as Agojies entraram para a história como a tropa de elite feminina que defendeu o Reino de Daomé, na África Ocidental. Vale espiar no YouTube imagens do verdadeiro exército.
As guerreiras servem ao jovem rei Ghezo (John Boyega), mas não integram seu harém. Proibidas de casar e ter filhos, elas vivem para a guerra. O filme começa em 1823, com Nanisca à frente do ataque surpresa que liberta escravos que seriam vendidos pelo império Oyo, liderado por Oba (Jimmy Odukoya), principal adversário político dos Daomés. Com o resgate, ela quer convencer Ghezo a substituir o tráfico de escravos por um caminho alternativo para a prosperidade.
Nanisca é um vulcão de mulher. Bruta, sim, porque brutalizada pela vida e pelos homens, mas também frágil por escolhas brutais que se obrigou a fazer. Segredos serão desvendados nesse misto de drama e ação, a partir de eventos que ocorrem fora dos muros do palácio. Na aldeia próxima vive Nawi (Thuso Mbedu), garota de personalidade forte que revida o tapa do homem a quem seu pai adotivo quer entregá-la em casamento. Solução: deixá-la aos cuidados das Agojies. Sua tutora será a exuberante tenente Izogie (Lashana Lynch).
Na área portuária encontramos Santo (Hero Fiennes Tiffin) e Malik (Jordan Bolger), dois brasileiros negociadores de escravos, o primeiro de ascendência portuguesa, o outro de mãe Daomé. Com Nawi, representam uma nova geração inconsciente das consequências do tráfico de escravos africanos na geografia mundial. A tensão entre os reis Ghezo e Oba alcança o pico na etapa final. As ações de Nanisca e seu esquadrão ganham dimensão ritualística em meio a violência. Compará-las aos super-heróis de Pantera Negra é diminuir seu valor histórico.
Mais de 6 mil africanas foram Agojies entre os séculos 17 e 19. Temidas e respeitadas, não podiam ser encaradas nos olhos. A diretora Gina Prince-Bythewood transformou Charlize Theron em guerreira imortal em The Old Guard, da Netflix, mas aqui o realismo impera. Dublês foram dispensados pelo elenco em 90% das cenas de batalha. A ferocidade das atrizes arranca arrepios. Há mensagens e símbolos em cada facada e cabeça cortada do inimigo.
Quatro vezes indicada ao Oscar e vencedora como atriz coadjuvante por Um Limite Entre Nós (2016), em que contracena e é dirigida por Denzel Washington, Viola Davis tem sido uma das vozes que clamam por mais protagonistas para atrizes negras. “Busco personagens complexas que exijam que eu as construa com a solidez de um edifício”, disse em entrevista. Em A Mulher Rei ela ergue um arranha-céu.
Trailer
Ficha Técnica
Título: A Mulher Rei/The Woman King
Direção: Gina Prince-Bythewood
Duração: 135 minutos
País de Produção/Ano: EUA, 2022
Elenco: Viola Davis, Thuso Mbedu, Lashana Lynch, John Boyega, Hero Fiennes Tiffin, Jimmy Odukoya,
Sheila Atim
Distribuição: Sony Pictures