Se fosse hoje, pode ter certeza que a balsa do título teria câmeras em todos os cantos e tudo o que acontecesse a bordo seria transmitido ao vivo em um reality show – uma mescla de Big Brother com No Limite. Mas era 13 de maio de 1973 quando A Balsa zarpou das Ilhas Canárias, na Espanha, para atravessar o Atlântico com destino à Cozumel, no México. Chamado Acali (casa na água), o pequeno barco de 12x7 metros foi palco de um experimento conduzido pelo antropólogo mexicano Santiago Genovés (1923-2013), com o objetivo de estudar comportamentos violentos.
Suas cobaias foram voluntárias e selecionadas a dedo: uma marinheira sueca, uma médica judia, um fotógrafo japonês, um restaurador grego, um padre angolano, uma norte-americana branca, uma afro-americana, uma mulher árabe da Argélia, um uruguaio, uma francesa e o próprio Genovés. Por três meses, esse microcosmo habitou a jangada sem motor, com banheiro ao ar livre e uma única cabine de dormitório. O pesquisador criou condições provocadoras para observar o que leva uma pessoa e entrar (ou não) em conflito, e o quanto situações-limite fazem aflorar os instintos, a verdadeira natureza do homem. A viagem virou sensação na mídia e logo ganhou a alcunha “nada científica” de Balsa do Sexo.
O que realmente aconteceu naqueles 101 dias foi registrado nas mais de mil páginas escritas por Genovés, nos questionários preenchidos pelos participantes e nas fotos e filmagens que, 43 anos depois, serviram de material para o premiado documentário A Balsa, de Marcus Lindeen. Mas o cineasta sueco foi além. Construiu uma réplica tamanho real da balsa em um estúdio na Suécia e reuniu os sete participantes da expedição que estavam vivos – seis mulheres e um homem.
Uma edição precisa alterna imagens da época, com narração em off de textos do antropólogo lidos pelo ator espanhol Daniel Giménes Cacho (Chicuarotes), e de cenas do emocionante reencontro. Com memórias vívidas até do espaço em que cada um dormia, o grupo relembra a experiência de juventude sob o prisma da maturidade. Há conversas francas sobre os relacionamentos a bordo, alguns segredos somente agora compartilhados, mas também revelações de métodos nada ortodoxos de Genovés para incitar a discórdia e estimular o sexo. Se a intenção do pesquisador era traçar um painel da violência, não foi bem esse o resultado alcançado. A conclusão a que os sete chegam sobre a experiência é um sopro de esperança para o ser humano.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: A Balsa/Flotten
Direção: Marcus Lindeen
Duração: 97 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Suécia, Dinamarca, Alemanha, EUA, 2018
Elenco: Santiago Genovés
Distribuição: Imovision