Chicuarotes

O astro mexicano Gael García Bernal gira o mundo em produções internacionais, inclusive no Brasil – Fernando Meirelles o dirigiu em Ensaio Sobre a Cegueira, Hector Babenco em O Passado e Walter Salles o transformou no jovem Che Guevara em Diários de Motocicleta. Talentoso e engajado, Bernal vira e mexe passa para o lado de trás da câmera em curtas-metragens, episódios de séries e agora com o segundo longa, Chicuarotes, em que joga os holofotes sobre a realidade de seu país.

Há algo de tragicômico na cara de palhaço de Cagalera (Benny Emmanuel) e Moloteco (Gabriel Carbajal), dois adolescentes que moram em San Gregorio Atlapulco, na periferia da Cidade México. Eles tentam fazer dinheiro com a arte do riso. Se o público não colabora, partem para o plano B: sacam a pistola e recolhem a grana. Inseparáveis, mas de perfis e vidas diferentes, Cagalera e Moloteco são um retrato da desesperança. O primeiro tem um pé natural na vida desregrada, com uma família disfuncional daquelas de novela: pai bêbado e violento, mãe sofredora, irmã até que normal e irmão gay enrustido. Moloteco vai na onda, mas no fundo queria ser palhaço mesmo, como seu ídolo, Cantinflas.

Bernal tem carinho por seus personagens, como se sua câmera fosse o terceiro elemento do grupo. Mas ele só observa e acompanha a dupla trilhando um caminho sem volta pelo mundo do crime, que culmina com o sequestro do filho de um comerciante local. O dinheiro do resgate seria o passaporte para longe dali, mas não é difícil prever que o plano está fadado ao fracasso.

Chicuarotes só não vai mais longe por conta de um roteiro preso a clichês e personagens caricatos. Há cenas forçosamente violentas, como uma tentativa de estupro sem pé nem cabeça, e um desfecho que não acerta no tom dramático. Tá certo, o realismo fala mais alto e Bernal não usa atenuantes, mas também se contenta com a mesmice. Sorte que sua dupla central tem carisma para compensar as derrapadas.

Em tempo: a palavra chicuarote é usada tanto como referência a um tipo de pimenta, quanto como gíria para teimosos e cabeças-duras.

Ficha Técnica

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