sexta, 29 de março de 2024
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David Attenborough, 95 anos: Meio Ambiente


David Attenborough, 95 anos: Meio Ambiente

O naturalista e ambientalista britânico David Attenborough, que neste 8 de maio completa 95 anos em plena atividade e ativismo pela preservação da Terra, talvez seja o homem que provavelmente viu mais do mundo natural do planeta do que qualquer outro. Sua carreira como documentarista da natureza e da vida animal começou em 1979, com a inovadora série de televisão Vida na Terra, exibida na BBC, e vista por mais de 500 milhões de espectadores. Não parou mais, e as séries Nosso Planeta, Planeta Terra, Planeta Azul, Vida Selvagem são alguns de seis trabalhos mais populares.

Aos 93 anos, com David Attenborough e Nosso Planeta, o ambientalista cravou seu testemunho privilegiado sobre a sua rica e incomparável experiência, alertou para o cataclisma que nos espera e apresentou suas recomendações para evitar o esgotamento das reservas da Terra, finitas como é também a vida humana. Surpreendido como todos nós com a pandemia, ele foi convidado para narrar O Ano em que a Terra Mudou, um dos primeiros documentários realizados após o início do isolamento global e seus efeitos surpreendentes na natureza. Não há melhor maneira de celebrar a vida e o amor à natureza do que ouvir sobre o legado e o entusiasmo de David Attenborough com a reação do mundo natural à pausa forçada do homem.


Documentário
David Attenborough e Nosso Planeta/David Attenborough: A Life on Our Planet

David Attenborough e Nosso Planeta/David Attenborough: A Life on Our Planet

O inglês David Attenborough (Mundo Natural), que se formou em ciências naturais em Cambridge, dedicou sua longeva vida a registrar a fauna e a flora privilegiada do nosso planeta Terra. Em seus 95 anos de vida e 70 de carreira, testemunhou, filmou e exibiu mais de 650 espécies e centenas de paisagens deslumbrantes, frequentemente dos confins dos cinco continentes. Agora, com David Attenborough e Nosso Planeta, ele faz e deixa seu testemunho sobre as belezas que filmou, a destruição da natureza que presenciou e alerta sobre o futuro que nos espera se a humanidade não repensar e transformar seu modo de vida atual.

O cineasta começou a filmar quando a indústria aeronáutica e do turismo começava a estimular voos internacionais. O mundo ficou acessível a todo mundo. Mas não foi apenas isso que mudou no quase um século de existência de Attenborough, e ele aponta os efeitos da mudança do modo de vida e do consumo no nosso habitat natural. A contagem do tempo no documentário é feita com três marcadores: o número de habitantes do planeta, os índices de emissão de carbono na atmosfera e a porcentagem de reservas naturais consumida, de 1937 até agora. Apesar de conhecida, a evolução é assustadora.

David Attenborough e Nosso Planeta/David Attenborough: A Life on Our Planet

Com a qualidade excepcional das imagens característica de seu trabalho, Attenborough estabelece um diálogo com o espectador, olhando para a câmera. Avisa que ao longo dos 15 bilhões de história do planeta, houve pelo menos quatro eventos de destruição em massa, sendo o último o impacto do asteroide que dizimou os dinossauros. De lá para cá, no período do Holoceno, o planeta se refez, e nos últimos dez mil anos, viveu-se em paz e harmonia com a natureza e com as conquistas do homem, o único habitante inteligente na face da Terra.

De um prédio deserto, em Pripyat, cidade vizinha a Chernobyl, na Ucrânia, local do acidente nuclear ocorrido em abril de 1986, o documentarista começa seu testemunho. Há 35 anos, a cidade evacuada, e hoje abandonada, tinha 50 mil habitantes. A tragédia nuclear foi resultado de má administração e erro humano, explica Attenborough. Durante uma hora, ele ilustra seu relato autobiográfico, que também é uma biografia do planeta, com imagens e histórias de outras más administrações e erros humanos. A imagem de um orangotango que sobe numa árvore na floresta, e anos depois, de outro que sobe numa única árvore sobrevivente ao desmatamento, e pena para se equilibrar num único arbusto, vale por mil palavras.

David Attenborough e Nosso Planeta/David Attenborough: A Life on Our Planet

Mas o testemunho privilegiado de David Attenborough na produção original da Netflix vem acompanhado de sua fé e de suas recomendações para salvar o planeta, que inclui políticas de controle de natalidade, aumento das áreas de reserva em terra e no mar, a utilização de recursos renováveis, dietas mais vegetais. A tomada aérea da Pripyat atual ao término do filme é emblemática. A única saída para o planeta, agora, conclui o ambientalista, é simples: a humanidade precisa não mais apenas de inteligência, mas sobretudo de sabedoria.




Trailer

Ficha Técnica

Título: David Attenborough e Nosso Planeta/David Attenborough: A Life on Our Planet
Direção: Alastair Fothergill , Jonathan Hughes, Keith Scholey
Duração: 83 minutos

País de Produção/Ano: Reino Unido, 2020
Elenco: David Attenborough, Max Hughes
Distribuição: Netflix


Assista Agora!
Netflix

Documentário
O Ano em que a Terra Mudou/The Year Earth Changed

O Ano em que a Terra Mudou/The Year Earth Changed

Produzido pela BBC para a Apple+, o documentário do experiente Tom Beard, que não poderia ser narrado por outro senão David Attenborough (Planeta Azul), é um dos primeiros e preciosos registros dos efeitos da pandemia e do isolamento na natureza. Realizado por equipes remotas em vários países dos cinco continentes, coordenadas por Beard, e montado em tempo recorde, O Ano em que a Terra Mudou traz imagens inéditas, impressionantes e até comoventes do reencontro da natureza e do mundo animal consigo mesmo e, espera-se, com a humanidade.

Enquanto a população está reclusa em todo o globo, como mostram as sequências de capitais e grandes cidades desertas, silenciosas, portas inimagináveis são abertas para o mundo natural se refazer e florescer. Na voz marcante e pungente de Attenborough, o registro grave de seu alerta autobiográfico em David Attenborough e Nosso Planeta torna-se mais otimista, maravilhado até. “É uma oportunidade única de pesquisar a vida e o mundo selvagem e ver o que acontece sem a nossa interação”, diz uma das entrevistadas, pesquisadora de baleias.

O Ano em que a Terra Mudou/The Year Earth Changed

O ar está mais limpo. Em Los Angeles, em apenas alguns dias a qualidade do ar registrada foi a mais alta em 40 anos. Na Índia, as águas do Ganges ficaram 80% mais limpas. Na China, a emissão de gases tóxicos no ar diminuiu em 50%. Em São Francisco, os pardais de coroa branca, abrigados sob a famosa ponte Golden Gate, cantam novas notas no seu ritual de acasalamento. No sudeste do Alasca, a ausência dos iates de turismo permite às baleias se comunicarem com seus filhotes e resgatarem o ritual coletivo da espécie em busca de alimento para sua prole. No Quênia, as expedições de turistas devolveram à mãe guepardo, após a caça, o alcance de seu trinado para chamar os filhotes, à salvo, para comerem.

Na praia de Juno, na França, as tartarugas-cabeçudas, cada vez em menor quantidade no mar, multiplicaram a desova nas praias vazias. Na Cidade do Cabo, na África do Sul, os pinguins-pai deixam seus filhotes nas ruas desertas e vão ao mar em busca de alimento duas, até três vezes na luz do dia, algo que só podiam fazer à noite, acelerando o crescimento e a saúde dos bebês. No Japão, na Argentina, na África sem safaris, cervos, capivaras e até leopardos passeiam pelas ruas vazias e quintais das residências e cidades. 

O Ano em que a Terra Mudou/The Year Earth Changed

Na Índia, uma comunidade inteira reverteu a ameaça centenária dos elefantes na região, que prejudicava suas plantações de arroz. Com a volta dos moradores que estavam fora a trabalho nas cidades, a população decidiu plantar numa grande área, o campo dos elefantes. Meses após o isolamento, o confronto milenar da região entre homem e elefante estava solucionado.

Em Jalandhar, ainda na Índia, cidade de 1 milhão de habitantes, apenas 12 dias após o isolamento, as pessoas começaram a gritar dos telhados: “A montanha, a montanha”. Sem a poluição, o Himalaia, situado há 200 quilômetros de distância, pôde ser visto a olho nu pela primeira vez em 30 anos. São apenas 43 minutos de inspiração e esperança para o planeta, uma lição inestimável de um futuro possível. Que a humanidade não precise mais se ausentar e perder o ar para deixar a natureza respirar. Nunca mais.




Trailer

Ficha Técnica

Título: O Ano em que a Terra Mudou/The Year Earth Changed
Direção: Tom Beard
Duração: 48 minutos

País de Produção/Ano: Reino Unido, 2021
Elenco: David Attenborough, (narrador), Bhashkar Bara, Dulu Bora
Distribuição: AppleTV+


Assista Agora!
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Fátima Gigliotti

Fátima Gigliotti

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Cinéfila incorrigível, jornalista, editora, professora (não muito), crítica (chatinha) de cinema e audiovisual. Trabalhou no jornal A Folha de São Paulo, na coleção Cinemateca Veja, nas revistas TVA, Ver Vídeo, Set, Querida e Preview.

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