Depois de uma bela jornada em festivais internacionais como o de Rotterdam, o IndieLisboa, o Brooklyn Horror Fest e o New Horizons IFF, na Polônia, além de eventos do circuito independente no Brasil, A Noite Amarela tem estreia nacional simultânea no cinema, na Sessão Vitrine (com ingressos a preços mais populares), e no streaming (Apple TV, Google Play/YouTube Premium, Now, Vivo Play). É uma grata surpresa do gênero terror sobrenatural.

A produção paraibana tem roteiro a quatro mãos de Jhésus Tribuzi e do diretor Ramon Porto Mota, parceiros também no elogiado O Nó do Diabo. Mota chama A Noite Amarela de “slasher espiritual”, e é interessante ver o filme para concordar ou não com seu criador. De uma premissa clássica, a da viagem de adolescentes que pode acabar mal, o diretor realizou uma obra intimista, experimental e genuína, em que exercita o domínio da linguagem e brinca com as referências mais comuns do gênero sem descuidar de lhes dar sentidos múltiplos. 

São quatro garotas e três garotos, amigos de Campina Grande, que fizeram a prova do Enem e vão comemorar o fim do ensino médio na casa do avô de uma delas, já falecido, situada numa pequena ilha na costa do Nordeste brasileiro. Quando descem do barco já é noite, quem devia esperá-los não está lá e não tem sinal de celular. É esse estado de se encontrar à mercê do desconhecido, e com ele de algum perigo ou alguma ameaça, que não abandona mais a tela e os personagens.  

Esse desconhecido assume várias formas em vários tempos e espaços, sempre fora do foco da câmera, na imaginação, no delírio, no sonho e nas conversas dos jovens submetidos a um jogo de pouca luz e muitas sombras dispersas em estradinhas escuras e nos ambientes sombrios da casa, de cômodos ocultos. Num deles, a garota mais arredia e agressiva do grupo descobre cadernos e fitas de VHS de uma pesquisa inacabada do proprietário sobre fotografia quântica – o que a lente revela no papel fotográfico que não parecia estar lá no momento do clique. É também essa investigação que Mota faz ao criar um monstro que assusta, mas nunca se revela, como o futuro ou a morte, seja desses sete adolescentes, seja de toda uma geração, seja de uma nação.

Ficha Técnica

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