A brasileira Nise da Silveira é um dos nomes mais celebrados da psicologia do século 20. Seu legado continua vivo nas mais de 350 mil obras do acervo do Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro, criadas por seus pacientes com transtornos mentais. Nesse 27 de agosto, Dia do Psicólogo, honramos sua memória ao indicar Nise: O Coração da Loucura, com Glória Pires maravilhosa como a protagonista.
No registro oposto dos profissionais que ocupam a cabeceira do divã para escutar e abrir novos caminhos de vida para seus pacientes está uma divertida Meryl Streep no papel da psicóloga nada ortodoxa e mãe judia convicta de Terapia do Amor.
Parabéns psicólogos e psicólogas!
Drama

Nise: O Coração da Loucura
Nise da Silveira (1905-1999) é, sem dúvida, uma sertaneja das mais fortes. Alagoana, filha única, entrou na faculdade de medicina aos 15 anos, numa turma de 156 homens, sem nem banheiro para mulher. Formada, mudou-se para o Rio de Janeiro com a mãe viúva, passou no concurso público de médica psiquiatra, ficou presa 18 meses na ditadura Vargas por ter livros suspeitos, e 8 anos afastada do trabalho. Reassumiu seu posto médico em 1944, no Hospital do Engenho de Dentro, na zona norte do Rio de Janeiro, onde se praticava regularmente lobotomia e sessões de choque com os cerca de 2 mil pacientes da instituição.
Quando Nise se recusou a realizar esses procedimentos, deram-lhe a unidade de terapia ocupacional do hospital, quase um porão de entulhos no qual os internos eram praticamente abandonados. Nise: O Coração da Loucura narra os primeiros anos de trabalho da médica e a trajetória de inovação, humanização e êxito que ela conquistou com o tratamento terapêutico ocupacional-artístico com pacientes, em sua grande maioria, esquizofrênicos. Contra tudo e contra todos.
O diretor e corroteirista Roberto Berliner (A Farra do Circo) trouxe da experiência de documentarista a fidelidade aos fatos, mas sem descuidar do teor dramático da sua ficção. O ponto de vista do espectador acompanha o de Nise (Glória Pires, magnífica), a princípio estupefata com o descaso institucional, depois receosa sobre como cuidar dos seus “clientes” (“Pacientes nós é que temos que ser”, diz), e por fim encantada ao ver como a arte abriu-lhes caminhos de expressão antes inimagináveis. O resultado comoveu ninguém menos que Carl Gustav Jung (1875-1961), discípulo e amigo de Freud e pai da psicologia analítica. Ele se correspondia com a colega brasileira e foi decisivo para a exposição das obras no II Congresso Internacional de Psiquiatria, em Zurique, em 1957.
Antes disso, o famoso crítico de arte Mário Pedrosa (1900-1981) ficou impressionado com o calibre artístico das obras de um grupo específico - Raphael Domingues, Lúcio Noeman, Carlos Pertuis, Adelina Gomes, Emygdio de Barros, Fernando Diniz, Octávio Ignácio – e ajudou a promover uma exposição das obras deles no Rio. O impacto do trabalho de Nise foi tal que levou à criação do Museu de Imagens do Inconsciente, em 1952, no Rio de Janeiro, que hoje conta com mais de 350 mil obras. História real digna de cinema.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Nise: O Coração da Loucura
Direção: Roberto Berliner
Duração: 106 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Brasil, 2015
Elenco: Glória Pires, Felipe Rocha, Augusto Madeira, Fernando Eiras, Júlio Adrião, Roney Villela, Simone Mazzer, FabrÃcio Boliveira, Roberta Rodrigues, Claudio Jaborandy, Charles Fricks, Zécarlos Machado
Distribuição: Imagem Filmes
Comédia Romântica

Terapia do Amor/Prime
Com o perdão do clichê, Meryl Streep (The Post: A Guerra Secreta) é mestra em roubar a cena em filmes e séries, seja como protagonista ou coadjuvante de luxo. Por isso, Uma Thurman (A Casa que Jack Construiu) e Bryan Greenberg (a série Projeto Mindy) merecem ainda mais crédito por não se deixar ofuscar na comédia romântica Terapia do Amor, escrita e dirigida por Ben Younger (Sangue pela Glória) que, convenhamos, estava inspirado quando imaginou a mais esdrúxula das situações.
Lisa (Meryl) é a terapeuta bem-sucedida, cujo consultório é uma sala anexa a seu apartamento, situado no badalado bairro Upper East Side em Nova York. Mas ela é também uma mãe judia típica, zelosa dos filhos e da religiosidade deles, sobretudo em relação ao casamento, para manter a tradição e a história familiar.
Qual não é sua surpresa ao descobrir, com mais detalhes do que gostaria, que seu amado filho David (Greenberg) é o namorado que tem feito sua paciente Rafi (Uma) superar o divórcio, redescobrir o prazer sexual e voltar a acreditar no amor? Como se não bastasse, Rafi é uma fotógrafa renomada de 37 anos, e David, do alto de seus 23 anos, quer e tem talento para ser pintor, mas a família conservadora não gosta nada da ideia.
Nessa encruzilhada tripla, há amor e humor inusitado, saídos principalmente de acertos do texto, do talento e dos trejeitos da composição de Meryl Streep para Lisa, e da inocência juvenil bem-intencionada de David, que Greenberg explora com surpreendente graciosidade. Além disso, Ben Younger soube fazer a atração entre David e Rafi escalar para um romance de afinidades e paixão, sem negar as diferenças entre eles. Ele enquadra as belezas de Nova York e traz sofisticação com a arte das pinturas e a trilha sonora de bom gosto. Por isso, não é muito custoso fazer vista grossa à abordagem um tanto leviana do processo terapêutico e do terapeuta que o filme veicula. Mas não dá para ignorar.
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Ficha Técnica
TÃtulo: Terapia do Amor/Prime
Direção: Ben Younger
Duração: 105 minutos
PaÃs de Produção/Ano: EUA, 2005
Elenco: Uma Thurman, Meryl Streep, Bryan Greenberg, Jon Abrahams, Zak Orth, Annie Parisse
Distribuição: Universal Pictures