Wagner Moura viveu dias de popstar de Hollywood ao divulgar Guerra Civil. A superprodução da A24 fez US$ 114 milhões na bilheteria mundial, e a estreia em solo brazuca também impressionou. Foram mais de 260 mil ingressos vendidos e uma renda de R$ 6,5 milhões no primeiro fim de semana, a maior abertura da produtora independente no País e a maior bilheteria do ano para a distribuidora Diamond Films.
O astro de Tropa de Elite interpreta Joel, um dos quatro jornalistas a bordo de uma van rumo a Washington. Eles pretendem entrevistar o presidente (Nick Offerman), que está ilhado e acuado na Casa Branca, enquanto o país pega fogo em uma insana guerra interna. Kirsten Dunst é a lendária fotógrafa de guerra Lee, e Cailee Spaeny (Priscilla) faz Jessie, a fã que dá os primeiros passos com a câmera. O quarto elemento é Sammy (Stephen McKinley Henderson), representante da velha guarda da mídia impressa.
Na distópica trama escrita e dirigida por Alex Garland, a contextualização política ressalta a polarização, mas não há maiores explicações dos motivos do combate. O foco recai sobre os protagonistas e a relação de cada um deles com a profissão, seja a foto ideal, o furo de reportagem ou o significado das imagens e das palavras. A reação do público está polarizada também. Alguns abraçaram e outros reprovaram a abordagem genérica da guerra. OQVER celebra o debate com duas críticas de opiniões opostas.
Drama Guerra
Guerra Civil / Civil War - Gostei
Por Suzana Uchôa Itiberê
A histórica Guerra Civil Americana, travada entre 1861 e 1865, fraturou os Estados Unidos em Norte e Sul. A escravidão estava no centro do embate. As milícias escravagistas dos Confederados do Sul se digladiaram com soldados abolicionistas da União do Norte. No futuro distópico criado pelo roteirista e diretor britânico Alex Garland, a nova guerra de secessão americana é fruto da polarização e de um governo ditatorial de três mandatos, que burlou a constituição e dissolveu o FBI. Tradicionalmente opostos politicamente, desta vez Texas e Califórnia formam as chamadas Forças Ocidentais antigoverno, que por sua vez escala a Aliança da Flórida para neutralizar a revolta. Vago demais? Sim e não.
Diretor de filmes como Ex Machina: Instinto Artificial (2014) e Aniquilação (2018), Garland expande a mensagem pacifista com a argumentação genérica. Concebe Guerra Civil como um olhar sobre o estado das coisas no mundo contemporâneo. A desumanização advém da polarização como uma chancela para atrocidades. Se por um lado o enredo não se aprofunda nas razões do conflito, por outro oficializa a imprensa como quarto poder. O quarteto central assume o papel moderador, da neutralidade e da fiscalização. Pelo menos no terreno da ficção ainda se encontram jornalistas isentos.
As filmagens foram em ordem cronológica e o entrosamento entre os protagonistas cresce na mesma medida que a tensão. Colabora também o formato de road movie, que os coloca na estrada rumo à capital para entrevistar o presidente. Com estilo galante, o repórter Joel (Wagner Moura) é o alívio cômico, se isso é possível. O veterano Sammy (Stephen McKinley Henderson) é a consciência silenciosa da barbárie. A fotógrafa Lee (Kirsten Dunst) vê cair por terra o idealismo da imagem que pode mudar o mundo, enquanto a novata Jessie (Cailee Spaeny) começa a sentir na pele o risco e a responsabilidade que envolve sua objetiva.
A insensatez da guerra grita a cada parada a caminho de Washington. Em uma delas, se deparam com a personificação do fascismo. Jesse Plemons, que contracenara com a esposa Kirnsten Dunst em Ataque dos Cães (2021), aqui faz uma participação de embrulhar o estômago. Autoritarismo, preconceito, xenofobia, repressão, muita violência. Garland é diretor engajado e convicto do simbolismo de Guerra Civil, mas não levanta bandeiras que possam alimentar a polarização. O público acostumado a receber tudo mastigadinho precisa abrir os olhos para as respostas que não estão escancaradas, mas estão lá.
Trailer
Ficha Técnica
Título: Guerra Civil / Civil War - Gostei
Direção: Alex Garland
Duração: 110 minutos
País de Produção/Ano: EUA, Reino Unido, 2024
Elenco: Kirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny, Stephen McKinley Henderson, Nick Offerman
Distribuição: Diamond Films
Drama Guerra
Guerra Civil / Civil War - Não Gostei
Por Roberto Cunha
Até mesmo o mais desavisado dos mortais já percebeu que o mundo vive uma polarização política gigante, talvez, parecida com a ocorrida na época das duas grandes guerras mundiais ou, quiçá durante a posterior Guerra Fria. Guerra Civil acontece num futuro próximo. No poder, o atual presidente dos Estados Unidos está encastelado na Casa Branca, acuado pelos rebeldes das Forças Ocidentais, lideradas por Califórnia e Texas, e busca ajuda com a Aliança da Flórida. Enquanto o caos está instaurado no país, surge a possibilidade de uma entrevista com o presidente, missão que uma experiente fotógrafa (Kirsten Dunst) irá pegar ao lado de um repórter (Wagner Moura), uma fotógrafa aprendiz e um jornalista veterano. Para isso, a jornada de quase mil milhas, pela estrada até a capital, será perigosa e violenta.
Roteirista de Extermínio (2002), Alex Garland também roteirizou e dirigiu Ex Machina - Instinto Artificial, vencedor do Oscar 2016 de Melhor Efeitos Especiais e indicado para Melhor Roteiro Original. Em Civil War (título original) o cineasta inglês retorna às duas funções, assim como o climão de futuro “sinistro”, só que mais próximo da realidade. Sem entrar nos pormenores do motivo da guerra propriamente dita, a produção dá a entender que os conservadores Republicanos estão no poder e os rebeldes Democratas estão dispostos a tudo para conquistá-lo. Enquanto isso, a protagonista com experiência em conflitos sangrentos vivencia uma crise existencial ao testemunhar o desespero da novata diante da violência.
Assim como não se preocupou em explicar o que gerou o título, o roteiro não trabalha o drama da personagem principal, talvez, por achar que se tratando de uma fotógrafa, imagens bastariam. Não bastou. Por mais que o recurso de capturar frames das sequências de ação (em preto e branco) possam ter algum efeito especial (e tem), é pouco para o que poderia render a suposta “transferência” de poder de personagens, aqui, femininos. No fundo, tudo se revela rápido e superficial. Aliás, o personagem do ator brasileiro, que repudia seu papel mais importante no cinema nacional (Capitão Nascimento, do clássico Tropa de Elite), é igualmente rasteiro.
Como os diálogos do filme são pobres, Moura mostra que sua longa temporada no berço do tão criticado capitalismo serviu para decorar dezenas de palavrões e expressões chulas com algum sotaque. Aliás, seu jornalista bebeu todas na noite anterior a viagem, teve interesse sexual na jovem novata, chamou-a para a perigosa aventura e, durante ela, fuma cigarros com a “mesma pressão” que os usuários de maconha o fazem. Escorado em personagens fracos assim, a trama igualmente fraca se desenrola entre calmarias e sustos (recurso já batido e pouco criativo), aliados de boa fotografia, som e trilha sonora. Para quem busca ação, algumas sequências são bem filmadas e geram alguma tensão, com destaque para uma protagonizada pelo ator Jesse Plemons (Ataque dos Cães). Nada além disso. Curiosamente, faltou conflitos em Guerra Civil e o resultado é um filme abaixo da média.
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Ficha Técnica
Título: Guerra Civil / Civil War - Não Gostei
Direção: Alex Garland
Duração: 110 minutos
País de Produção/Ano: EUA, Reino Unido, 2024
Elenco: Kirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny, Stephen McKinley Henderson, Nick Offerman
Distribuição: Diamond Films
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