Festival Varilux 2019: Dramédias francesas

Quando encontramos um pouco de tristeza no riso ou um pouco de graça na tristeza, e drama e comédia se combinam na tela do cinema, o nome do gênero, claro, é comédia dramática – ou, como dizem por aí, dramédia.

Na programação do 10º Festival Varilux de Cinema Francês, exibido em cerca de 80 cidades até o dia 19 de junho, dois filmes integram o filão. Boas Intenções e Os Dois Filhos de Joseph têm graça e tristeza em várias medidas. Não dá pra chorar de rir, mas é bem provável que você prefira rir pra não chorar.  

Boas Intenções/Les Bonnes Intentions

Uma das artistas mais versáteis do cinema francês, a roteirista, diretora, e aqui atriz, Agnès Jaoui (Praça Pública), interpreta Isabelle, uma cinquentona que dedica tanto tempo a trabalhos voluntários e às aulas de francês para imigrantes que chega a negligenciar a própria família. Quando descobre que os alunos querem e precisam ter carteira de motorista, Isabelle e o instrutor Attila (Alban Ivanov, de Um Banho de Vida) embarcam com a turma numa viagem de destino incerto.

Boas Intenções é mesmo o que seu título sugere, uma comédia social que se diverte com a crise da família no mundo moderno, e com o sentimento de culpa e de solidariedade (muito mais daquele do que deste) da classe média, ou como preferem os franceses, dos burgueses, perdidos frente a uma nova ordem mundial. O diretor Gilles Legrand inclui praticamente todas as etnias na classe de imigrantes, inclusive um brasileiro, Thiago, interpretado pelo português Nuno Roque.

O “brasileiro” é o único personagem, aparvalhado e viciado em games, que não tem seu momento de brilho com algumas tiradas cômicas típicas do confronto de culturas vistas pelo olhar do estrangeiro. Isabelle fica no limite da antipatia, para depois justificar suas (inadequ)ações com o atribulado passado familiar. Legrand equilibra clichês e um conjunto abundante de personagens com a empatia do elenco, numa jornada de boas intenções, é verdade, mas daquelas que driblam o inferno.

Ficha Técnica

Assista Agora!

Os Dois Filhos de Joseph/Deux Fils

Quem assistiu ao doce e caótico A Excêntrica Família de Gaspard, em que o ator Félix Moati, cujo personagem dá nome ao filme, volta para a casa da família, dona de um zoológico, já pode ter uma ideia do tom de Os Dois Filhos de Joseph. É a estreia de Moati na direção de longa-metragem, depois de concorrer à Palma de Ouro de melhor curta-metragem em Cannes com Après Suzanne (2016).

O jovem cineasta surpreende com um conto familiar agridoce que acontece tanto dentro do apertado apartamento de Joseph (Benoît Poelvoorde, de O Novíssimo Testamento) quanto nas ruas de uma noturna e sempre bela Paris - cortesia do veterano diretor de fotografia Yves Angelo (Marvin), apoiado em ótimas atuações do trio de protagonistas.

Joseph, que educou os filhos sozinho, em depressão após a morte do irmão, abandona o consultório de médico para escrever um livro. Joachim (Vincent Lacoste, de Amanda), um promissor aluno de psiquiatria, não consegue concluir o doutorado desde que se separou da namorada. Ivan (Mathieu Capella), de 13 anos, seria o mais maduro da tríade se não tivesse que lidar com a negligência do pai e do irmão, e a já tumultuada chegada à adolescência. Com esses perdidos que, querendo ou não, só têm uns aos outros com quem contar, o talentoso Moati constrói situações patéticas, afetivas, constrangedoras, sempre com um toque de humor inusitado. 

Ficha Técnica

Assista Agora!

Compartilhe!