Não é preciso ter lido o best-seller É Assim que Acaba, da norte-americana Colleen Hoover, para ligar o radar nas primeiras cenas da versão para o cinema. A protagonista, Lily Bloom, se vê incapaz de criar uma lista com cinco qualidades do pai para homenageá-lo no velório. Flashes do passado logo revelam a relação abusiva que testemunhou ainda criança, sem entender como a mãe suportou tanta violência. No mundo real, a vítima foi a mãe da escritora, que apoiou a filha a lidar com o trauma pela literatura. It Ends with Us, no título original, ficou no topo da lista dos livros mais vendidos do The New York Times e do Publishers Weekly.
Estrelada por Blake Lively (Um Pequeno Favor), a adaptação estreou forte nos Estados Unidos, onde a bilheteria se aproxima dos US$ 74 milhões. Também impulsionou o público no Brasil, com a venda de 1,2 milhão de ingressos na primeira semana, segundo o portal Filme B. Na trama, Lily se mudou de sua cidade no Maine para estudar em Boston, onde sonha abrir uma floricultura. É no terraço do topo de um prédio, logo após a morte do pai, que ela flerta com Ryle, o sedutor neurocirurgião interpretado por Justin Baldoni, que também assume a direção. O ator, produtor e cineasta é conhecido pelo comando do drama romântico A Cinco Passos de Você (2019), e volta a investir no gênero. Daí a polêmica. A violência contra a mulher, tema central da obra, é abafada por um triângulo amoroso.
Enquanto um daqueles acasos dignos de cinema reaproxima Lily de Ryle através da irmã dele, Allysa (Jenny Slate), o enredo visita sua juventude, quando ela vive o primeiro amor ao lado de Atlas. Interpretados nessa fase por Isabela Ferrer e Alex Neustaedter, eles compartilham questões familiares e só não ficam juntos por intervenção alheia – também marcada pela violência. Eis que outra artimanha do destino promove o reencontro de Lily e Atlas (agora na pele de Brandon Sklenar). Ela fica bem mexida, mas segue firme com Ryle, mesmo depois de um estranho rompante de agressividade dele.
Há razão nas críticas que apontam romantização e conservadorismo no retrato da relação tóxica. A ausência do explícito pode soar como atenuante, mas vale observar que o ponto de vista é o de Lily. É dela a versão da própria história. É ela que não quer enxergar a cruel realidade, a origem de um ferimento, a causa de uma queda. Essa visão embaçada dos fatos se sustenta inclusive no perfil de Ryle, que até faz o tipo nervosinho, mas está longe do opressor monstruoso. É Assim que Acaba não perde potência por tratar o tema com sutileza. O problema é o roteiro, que dedica muito mais tempo ao novelesco conflito amoroso, com Lily entre Ryle e Atlas.
A relação mais sólida, no fim, é a da amizade entre a protagonista e Allysa. A tomada de consciência de que o irmão não é só um sedutor, mas um abusador, é das mais críveis dramaticamente. A conversa franca que as duas têm já perto do fim é exemplo de maturidade e sororidade. Engrandece o filme. O elenco todo é muito bom, mas as redes sociais estão agitadas com revelações sobre os bastidores. Tretas entre a estrela e seu parceiro de cena e diretor estão na linha de frente das fofocas que, como sempre, devem atrair mais curiosos aos cinemas. Uma coisa é inegável. Justin Baldoni manteve distância de Blake Lively nos tapetes vermelhos da estreia. Flores, pelo jeito, só mesmo na floricultura da personagem.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: É Assim que Acaba / It Ends with Us
Direção: Justin Baldoni
Duração: 130 minutos
PaÃs de Produção/Ano: EUA, 2024
Elenco: Blake Lively, Justin Baldoni, Jenny Slate, Hasan Minhaj, Amy Morton, Brandon Sklenar
Distribuição: Sony Pictures