Primeiro, a celebração: a segunda e a terceira temporada de Xógum: A Gloriosa Saga do Japão estão confirmadas! Exibida no Brasil com exclusividade no Disney+ e Star+, a série em 10 episódios é um monumento histórico, cultural e dramatúrgico. A adaptação do best-seller de James Clavell (1921-1994) mergulha em um conturbado período do Japão feudal e de expansionismo no mundo ocidental. A magnífica mise-en-scène e a minuciosa reconstituição do país no início do século 17 emolduram uma violenta trama de disputa de poder, paixões proibidas, tramoias políticas e afins. Um pacote novelesco completo em uma matriz onde a honra é o juízo final.
Os comerciantes portugueses e os missionários jesuítas estão há cinco décadas no arquipélago japonês, na trama que abre em 1600. A morte do imperador deixa o trono vazio, pois seu herdeiro ainda é um garoto. O Conselho de Regentes é formado por daimiôs, os senhores feudais. Costumeiramente, o imperador elege um desses chefes de clãs como o xogum, o comandante do exército, grande general que, na prática, é o verdadeiro governante. O cobiçado posto é o pilar do conflito. Essa é a situação com que se depara o espectador e o protagonista, o inglês John Blackthorne (Cosmo Jarvis, Persuasão), piloto do navio que chega em frangalhos na costa japonesa e é capturado junto com o que restou da tripulação.
A versão criada por Rachel Kondo e Justin Marks cruza o destino de Blackthorne com o de mais dois personagens. Também produtor da série, o astro japonês Hiroyuki Sanada (John Wick 4: Baba Yaga) interpreta o Lorde Yoshii Toranaga, isolado e ameaçado por membros do Conselho de Regentes que se unem contra ele. Exímio estrategista, ele coloca Blackthorne sob sua proteção, pois sabe que os planos do estrangeiro de minar a influência portuguesa na região podem lhe favorecer. A comunicação é intermediada pela tradutora Toda Mariko (Anna Sawai), uma enigmática nobre cristã e a última em uma linha de sucessão desonrada.
Impressiona a quantidade de personagens coadjuvantes, cada um deles com agendas próprias e todos muito bem desenhados por um roteiro complexo e fascinante. Com filmagens realizadas no Canadá em um período de nove meses, Xógum: A Gloriosa Saga do Japão quebrou recorde de audiência entre as séries da FX no serviço de streaming norte-americano Hulu. Somados os números da Disney+ e Star+, foram mais de 9 milhões de visualizações no mundo. A excelência da produção promove uma autêntica viagem ao antigo Japão. Todas as peças do figurino, por exemplo, foram feitas à mão e com tecidos japoneses. As armas utilizadas nas cenas de ação são autênticas do período.
Se o apuro no retrato da época e o enredo envolvente são um convite à maratona, o que pega pelo estômago em Xógum é o painel das crenças, costumes e valores morais que ditavam aquela sociedade. A estreita relação entre honra, vida e morte causa tanto estranhamento quanto admiração. Conhecido no ocidente como haraquiri, o ritual de suicídio seppuku, literalmente “cortar o ventre”, foi aplicado oficialmente no Japão do século 12 até meados do século 19, principalmente na classe dos samurais. O ato de estripação era uma demonstração de honra e pureza de caráter. Embora chocante e repugnante, provoca reflexões sobre a moralidade, ali tão pungente e aqui e agora tão decadente.
Trailer
Ficha Técnica
Título: Xógum: A Gloriosa Saga do Japão / Shôgun
Direção: Rachel Kondo, Justin Marks
Duração: 60 minutos
País de Produção/Ano: EUA, 2024
Elenco: Cosmo Jarvis, Hiroyuki Sanada, Anna Sawai, Takehiro Hira, Tadanobu Asano, Moeka Hoshi
Distribuição: Star+, Disney+
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