Vou Nadar Até Você

Ophelia (Bruna Marquezine) é uma jovem santista de 20 anos, filha de mãe solteira, fotógrafa contumaz. Quando descobre a visita do pai ao Brasil, o fotógrafo alemão de fama internacional Tedesco (Peter Ketnath, Cinema, Aspirinas e Urubus), ela escreve uma carta para ele, avisando que vai nadar ao seu encontro. O artista está em Ubatuba, para a apresentação de uma instalação. Na travessia de cerca de 280 km, Ophelia encontra pessoas ligadas ao passado do pai, que morou no Brasil na juventude, enquanto é vigiada de perto pelo sinistro Smutter (Fernando Alves Pinto, Legalidade), amigo de Tedesco, também fotógrafo.

Vou Nadar Até Você marca a estreia de Bruna como protagonista, e do premiado fotógrafo Klaus Mitteldorf na direção. O filme é, essencialmente, uma conversa entre eles, em seus respectivos papéis, embalada pela rica natureza do litoral paulista, de quem o diretor é fã confesso, desde a juventude, quando morou por lá. Bruna, em sua jornada edipiana, sabe encantar a câmera. Mittleldorf, é inegável, entende de beleza, e mostra-se eficiente na encenação da atmosfera lírica que entrepassa as melhores sequências do filme. A delicada trilha sonora contribui, com as suaves canções interpretadas por Luiza Meiodavila, filha do diretor.

Mitteldorf povoa sua estreia de (auto)referências, além do cenário familiar e de imagens ícones de sua obra. Utiliza filmagens em Super 8mm que realizou na década de 1970, e adiciona à Ophelia shakespeariana a célebre pintura homônima do britânico Sir John Everett Millais (1829-1896), tema de uma de suas séries, “A Morte de Ophelia”, de 1992. Além disso, faz de seus três personagens principais, fotógrafos, cuja contrastante visão de mundo se revela na imagem da câmera, e toca num tema caro à sua trajetória – o conflito entre o analógico e o digital, sobretudo na arte.

Mas tudo isso não passa pela lente objetiva de Mitteldorf, que prefere manter o foco de Vou Nadar Até Você na estética em detrimento da história, recheada de incoerências, e dos personagens, que flanam deslocados no tempo e com pouquíssimo espaço para conjurar qualquer consistência, incluindo aí a própria Ophelia. Ela, aliás, se autodefine numa cena: “Sou água”. Algo que poderia se aplicar também ao filme, um road movie marítimo, de plasticidade por vezes fascinante, mas evasivo e aquoso.

Ficha Técnica

Assista Agora!