A diretora japonesa Naomi Kawase, com sua formação em cinema documental e predileção por temáticas fortemente enraizadas na cultura oriental, tem colecionado prêmios nos circuitos de festivais independentes há duas décadas. Na sua prateleira estão, por exemplo, um Prêmio Especial do Júri, por Floresta dos Lamentos (2007), e um Prêmio Especial Ecumênico pelo belíssimo e comovente Esplendor (2017), do Festival de Cannes. A estreia na ficção, em 1997, com Suzaku, conquistou o prêmio Camera D’Or em Cannes, e o Prêmio da Crítica no Festival de Cinema de Roterdã. E na nossa Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, outra pérola, Sabor da Vida (2015), foi eleito o Melhor Filme Estrangeiro do evento.
A cineasta não apenas filma o modo de vida japonês e as suas ricas tradições, mas também o faz no ritmo da contemplação de uma certa mística (pelo menos para nós, ocidentais) e do respeito à natureza tão caros à sua cultura natal. É dessa fibra que é feito seu mais recente trabalho, o radical Vision, estrelado por Juliette Binoche (Vidas Duplas) e Masatoshi Nagase, parceiro da diretora em suas três produções mais recentes.
A sempre talentosa Juliette Binoche interpreta Jeanne, cronista de viagens em uma cruzada para encontrar, no Japão, uma erva chamada vision, cujas propriedades, ela acredita, podem curar a dor, a angústia e o desespero. A erva, no entanto, só aparece a cada 997 anos, e como está na época de acontecer o evento milenar, Jeanne decide ficar na floresta japonesa para testemunhá-lo. Lá, ela encontra o taciturno guardião Tomo (Nagase), e sua mentora Aki (Mari Natsuki), mulher sábia e celestial que diz ter mil anos, como a planta. Nessa primeira metade do filme, a busca de Jeanne e as pessoas que ela encontra nesse caminho vão descortinando uma natureza esplendorosa, filmada com a beleza, a majestade e a reverência que o olhar da cineasta transmite para as lentes das câmeras.
Mas quando Aki desaparece e Tomo resgata próximo ao rio um misterioso jovem (Takanori Iwata), presente, passado e futuro bailam entre si, os personagens e suas ações tornam-se fugidios e os movimentos da floresta, o vento, as folhas, o fogo, vão assumindo o protagonismo do filme, substituindo as palavras por sopros, delírios talvez. Naomi assume, principalmente na segunda metade, uma linguagem etérea, simbólica, hermética para os sentidos da cartesiana razão ocidental e lança o seu desafio para que a desvendemos. Não é fácil, mas tentar já é, por si só, recompensador.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Vision
Direção: Naomi Kawase
Duração: 109 minutos
PaÃs de Produção/Ano: França/Japão, 2018
Elenco: Juliette Binoche, Masatoshi Nagase, Takanori Iwata, Mari Natsuki, Minami, Mirai Moriyama
Distribuição: Imovision