Em 2017, o jovem diretor russo Kantemir Balagov ganhou o prêmio da crítica na Mostra Um Certo Olhar em Cannes, por Tesnota. Neste ano, de volta ao festival com Uma Mulher Alta, Balagov, de 27 anos, não apenas levou o troféu de direção na mesma mostra, como seu filme é o representante da Rússia para uma vaga entre os finalistas do Oscar 2020 de filme estrangeiro (agora a categoria mudou para filme internacional).
Tesnota é sobre uma família de uma pequena comunidade judaica de Nalchik, norte do Cáucaso, às voltas com o sequestro de um de seus filhos em 1998. Bagalov amplia o escopo e o propósito de seu mais recente trabalho para transformá-lo num pungente protesto antibélico, com a livre adaptação do livro A Guerra Não Tem Rosto de Mulher, de Svetlana Aleksiévitch, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura em 2015.
O ano é 1945. Na devastada Leningrado, logo após o final da Segunda Guerra Mundial, os prédios, os bairros e seus moradores estão em ruínas. A mulher alta do título, chamada de Grandona pelos amigos, é a tímida e calada Iya (Viktoria Miroshnichenko), enfermeira em um dos hospitais da cidade, depois que foi dispensada da linha de frente do combate por uma concussão que provoca momentos de completo blecaute. É também um ferimento que traz de volta sua melhor amiga, Masha (Vasilisa Perelygina).
Aluno do mestre Aleksandr Sokurov (A Arca Russa), já inserido na tradição dramática e estética do melhor cinema russo, Bagalov constrói o seu eixo narrativo a partir da história dessas duas mulheres dilaceradas por dentro e por fora, amigas, amantes e o que mais for necessário para sobreviver. Em meio à miséria, ao racionamento, aos cortiços, aos soldados feridos, Iya conta com o apoio do médico diretor do hospital. Masha desperta o interesse de um jovem tímido e aristocrata e o ciúme de Iya. Em razão de um fato estarrecedor, a ciranda desse quarteto vai ganhando contornos cada vez mais sórdidos.
É no extrato e na justificação dessa sordidez que o jovem cineasta exibe seu brilho, com uma narrativa lírica e perturbadora, emoldurada pela belíssima fotografia de cores quentes e tons esmaecidos. Se a escritora Svetlana Aleksiévitch trouxe a face feminina para as trincheiras da guerra, seja no front, nas cidades bombardeadas ou nos lares desterrados, Uma Mulher Alta a apresenta e representa através do retrato íntimo de uma dor universal.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Uma Mulher Alta/Dylda
Direção: Kantemir Balagov
Duração: 140 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Rússia, 2019
Elenco: Viktoria Miroshnichenko, Vasilisa Perelygina, Andrey Bykov, Igor Shirokov, Konstantin Balakirev
Distribuição: Supo Mungam Films