Um Lugar Bem Longe Daqui

Kya, a protagonista de Um Lugar Bem Longe Daqui, vivencia ainda criança o abandono da mãe, que foge do marido abusivo. Depois vê os irmãos se mandarem um a um. Por um período lhe sobra o pai, bêbado e violento, que as tantas some também. Por crescer e viver isolada em uma região pantaneira da Carolina do Norte, ela se torna “a menina do brejo” na boca dos locais que a menosprezam e hostilizam. No presente, a adulta Kya é acusada do assassinato de um jovem rico e popular. Sim! Um Lugar Bem Longe Daqui é thriller, com doses de romance e drama de tribunal.

A produção adapta o best-seller de Delia Owens, que vendeu mais de 12 milhões de exemplares pelo mundo. A atriz e produtora Reese Witherspoon (série Big Little Lies) se comoveu com a epopeia de sobrevivência de Kya, comprou os direitos do livro e montou uma equipe essencialmente feminina, a começar pela diretora, Olivia Newman. Roteiro, fotografia, direção de arte e figurino são assinados por mulheres, além da canção original “Carolina”, composta e interpretada por Taylor Swift.

O espírito de sororidade, porém, vale só nos bastidores, porque a protagonista é uma guerreira solitária. Sem estudo e marginalizada, Kya paga as contas com a extração de mexilhões e passa o tempo em conexão com a natureza, que registra em lindas ilustrações. A inglesa Daisy Edgar-Jones tem uma beleza clássica, com pele de porcelana e uma doçura natural que funcionou muito bem na série romântica Normal People. Aqui, sua beleza ganha ares selvagens e atrai dois homens, com os quais vivencia romances com desfechos bem distintos.

O primeiro amado é Tate (Taylor John Smith, Agente das Sombras), um amigo de infância. O segundo é Chase (Harris Dickinson, Malévola 2), cuja morte a leva para a cadeia. David Strathairn (O Beco do Pesadelo) faz o advogado de defesa e o elo entre presente e passado. É para ele que Kya relata a vida pregressa que se costura ao período do julgamento. À primeira vista, Um Lugar Bem Longe Daqui é mais uma história (bem contada) sobre violência contra a mulher. Um olhar mais atento, contudo, revela o outro lado da moeda: a formação de uma mulher independente e muito mais dona de si do que aparenta. É heroína que chama?

Ficha Técnica

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