Quando Andy entregou Woody, Buzz e a turminha de brinquedos dentro de uma caixa para Bonnie, no final de Toy Story 3 (2010), 15 anos de encantamento chegaram ao fim com um nível de emoção e lirismo raro de se alcançar em um filme, o que dizer então em uma animação. Os Oscar de melhor animação e canção (“We Belong Together”), entre inúmeros prêmios, coroaram o legado de amizade, aventura e diversão que marcou a franquia iniciada em 1995.
Daí o radar da descrença soar alto com o anúncio de um novo filme da série. Seria essa continuação um caça níquel? Para que mexer em uma trilogia perfeita? Pois bastaram alguns minutos de exibição para as barreiras desmoronarem. As lágrimas de emoção rolaram com vontade, o riso (com gargalhadas) veio fácil e a sensação de estar diante de algo fabuloso só se fortaleceu no desenrolar de Toy Story 4. Resultado: Oscar 2020 de melhor animação.
Essa é uma história sobre despedidas, reencontros e mudanças. O confinamento no quarto de Bonnie é temporário. A Disney/Pixar balança a varinha mágica e transporta a trupe tanto para um colorido e iluminado parque de diversões quanto para os escuros corredores e apertados armários de uma loja de antiguidades – nessas locações há inúmeros easter eggs, então fiquem atentos! É no antiquário que vive a pseudovilã Gabby Gabby, uma boneca macabra que coloca seus aterrorizantes capangas atrás de Woody. Ela cobiça a caixa de voz do herói para substituir pela sua, que está quebrada, na esperança de que suas falas atraiam uma criança. Esses bonecos só querem ser amados, como todos nós.
Buzz, Woody e Betty (crush do caubói) têm papéis centrais na trama. Mas é o Garfinho, em eterna crise existencial por não se ver como brinquedo, o grande sopro de ar fresco na franquia. Isso sem falar nos felpudos Coelhinho e Patinho, que são pancada da cabeça e sugerem as estratégias mais sem noção em horas de crise – são deles as cenas mais engraçadas. Toy Story 4 é a estreia na direção de Josh Cooley, que comanda sequências de ação de ousadia e rebuscamento ímpares.
Novamente guiado por seu instinto protetor, Woody quer poupar Bonnie dos desafios da pré-escola e não raro impõe aos amigos suas decisões. Por outro lado, perde o posto de brinquedo preferido e, pela primeira vez, experimenta um certo ostracismo e desconforto. Com Toy Story 4 a Disney/Pixar honra os ideais de John Lesseter (hoje fora do grupo), para quem a excelência de uma animação não está na técnica e sim na arte de contar a história. E o segredo, ele bem dizia, é escrever e reescrever o roteiro até ele atingir a perfeição. Esse chegou lá.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Toy Story 4
Direção: Josh Cooley
Duração: 100 minutos
PaÃs de Produção/Ano: EUA, 2019
Elenco: Com as vozes originais de Tom Hanks, Tim Allen, Annie Potts, Tony Hale, Jordan Peele, Keanu Reeves
Distribuição: Disney