Erza Miller fez uma aparição comportada no tapete vermelho na première de The Flash. O olhar era sério, tristonho até, com um certo ar de constrangimento... Também pudera. A imagem de um dos astros mais promissores da nova geração foi borrada por ele mesmo, com um comportamento errante que gerou acusações de agressão, roubo e assédio. Miller está em tratamento contínuo para recuperar a saúde mental. Que o sucesso do filme solo do herói da DC eleve seu moral.
The Flash é bom! Aventura juvenil, com efeitos meio capengas, mas ok, com humor tosco, mas ok, e com uma trama nostálgica e mirabolante, que se abre a questões filosóficas. Isso sem falar do elenco, das participações especiais e outras surpresas. Em passagem relâmpago pelo Brasil, o diretor argentino Andy Muschietti disse em entrevista ao OQVER que o núcleo emocional era sua maior preocupação. “Queria provocar emoções genuínas, não passar mensagens vazias”, afirma. “O drama desse jovem que deseja reencontrar a mãe gera uma emoção primitiva, com que todos vão se conectar.”
A espanhola Maribel Verdú interpreta Nora, a mãe de Barry Allen, o futuro Flash. A trágica morte dela e a condenação injusta do pai, Henry (Ron Livingston), são gatilhos que fazem o herói usar a supervelocidade com tamanha intensidade que volta no tempo. Só que para o passado de um multiverso que não é bem o que esperava. Nessa realidade alternativa, ele se depara com a versão jovem e feliz de si mesmo. “É uma carta de amor à infância, uma parábola dos dois lados que todos nós temos, e aqui um adulto lida com sua criança interior”, explica Muschietti. “Entendo como benéfico carregar sua criança interior para a vida adulta, porque ali estão os tesouros que perdemos com o fim da inocência.”
O desafio de Barry no multiverso será fazer as pazes com aquilo que não pode ser mudado. “Na aventura desse herói de passado traumático, a não linearidade do tempo levanta questões filosóficas, como destino e livre arbítrio”, diz. “Nossa mente recria a situação ruim repetidamente com um final feliz todas as vezes, apenas para nos impedir de enlouquecer, porque não podemos voltar no tempo."
Os eventos que deflagram o confronto entre Supergirl (Sasha Calle) e seu conterrâneo kryptoniano, General Zod (Michael Shannon), reforçam o conceito da inevitabilidade. Essa densidade faz bem à trama, que seria melhor se perdesse uns 20 minutos de “gordura” na edição. Agora, por ser um filme solo do Flash, é estranho vê-lo como coadjuvante toda vez que Batman entra em cena. Ben Affleck está animadinho e protagoniza uma vibrante sequência de ação, mas é Michael Keaton quem rouba a cena geral como um decadente Bruce Wayne.
Premiado no cinema independente por As Vantagens de Ser Invisível (2012), depois de causar sensação como o bizarro filho de Tilda Swinton em Precisamos Falar Sobre o Kevin (2011), Ezra Miller entrou no mainstream literalmente como herói. A primeira aparição como Flash foi em Batman vs Superman (2016), em que a DC apresentou a Liga da Justiça. De lá para cá, voltou a andar ligeiro em Esquadrão Suicida (2016) e Liga da Justiça (2017). Falta juízo ao ator, mas talento tem de sobra, e o diretor tira proveito para dar uma guinada na própria carreira.
Muschietti ganhou fama no terror, com os sucessos Mama (2013) e os dois capítulos de It (2017 e 2019). A influência do gênero é sutil em The Flash, mas está lá. “O terror não é gráfico, é o horror da perda da mãe e da injustiça com o pai, são horrores de traumas infantis”, pondera. “Mas há terror sim, embora divertido, na cena com os bebês, logo na abertura.” Entre acertos e erros, o saldo de The Flash é positivo. E vai ter marmanjo soltando lágrima com uma homenagem aos heróis de ontem e de hoje da DC no cinema.
Trailer
Ficha Técnica
Título: The Flash
Direção: Andy Muschietti
Duração: 144 minutos
País de Produção/Ano: EUA, Canadá, Austrália, Nova Zelândia , 2023
Elenco: Erza Miller, Ben Affleck, Michael Keaton, Gal Gadot, Sasha Calle, Michael Shannon, Ron Livingston, Maribel Verdú
Distribuição: Warner Bros. Pictures