Testemunha Invisível

Refilmagem do espanhol Um Contratempo (2016), suspense que integrou a boa onda de produções espanholas adoradas da Netflix, a versão italiana Testemunha Invisível manteve praticamente intacta a trama, mas não a narrativa, o que por si só já seria interessante. Mas além disso, o filme se propõe um autêntico thriller policial daqueles em que a verdade, quando revelada, resulta de um verdadeiro labirinto de versões e detalhes facilmente manipuláveis ao gosto e astúcia de cada narrador.  

Adriano Doria (Riccardo Scamarcio, O Sonho de uma Família) não é só um empresário bem-sucedido, ele é o empresário do ano em Milão, com todos os adereços de praxe – dinheiro, carrões, família feliz, e a amante artista, independente e volátil. Tanto que está sendo acusado da morte dela. Em prisão domiciliar, ele aguarda a sua melhor – e única – chance de escapar da condenação no tribunal: a criminalista Virginia Ferrara (Maria Paiato), que nunca perdeu um caso, e cobra bem caro por isso. Ela vai preparar Adriano para o julgamento.

Entre quatro paredes, os dois travam um embate cerebral de palavras, sugestões e digressões. Enquanto conversam no tempo presente, Adriano reconstrói em flashbacks os fatos do passado, de um crime que envolve outro crime, mas Virginia é páreo duro e aponta contradições, não deixa passar nada. O diretor Stefano Mordini vai pintando em vários tons sua anatomia de um crime, às vezes carrega na cor, corrige com outra pincelada, como o roteiro do filme. Mas seu elenco acerta. Riccardo Scamarcio e Maria Paiato capricham nas nuances para não entregar nem de mais nem de menos, e não comprometer o instigante desfecho.

O título original também poderia ser traduzido como “testemunho invisível”, que seria mais justo com o filme e seu jogo de dualidades, circulando entre a mentira e a verdade e tudo o que está no meio delas. Talvez menos brilhante que o original espanhol na encenação, a adaptação italiana, no entanto, deixa mais perguntas no ar e faz refletir sobre manipulação de testemunhos e (suas) testemunhas invisíveis, ou seja, sobre poder. Nada mal para um thriller. Muito oportuno, aliás. 

Ficha Técnica

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