Vencedor do prêmio do Júri e do Público no Festival de Berlim, Sr. Bachmann e Seus Alunos tem exatas 3 horas e 37 minutos de duração. Pode acreditar, você lamenta quando chega ao fim. Disponível na plataforma Mubi, o documentário é uma atração moldada à perfeição para este Dia do Professor. No início, a gente acha que vai assistir a uma versão estendida de Entre os Muros da Escola (2008). No filme de Laurent Cantet, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, François Bégaudeau interpreta a si mesmo, junto a seus alunos, na recriação do barril de pólvora que era a sala de aula da turma multirracial na periferia de Paris. Excelente, mas as semelhanças param no cenário escolar. Sr. Bachmann e Seus Alunos segue caminho contrário ao tenso drama francês. O que a cineasta alemã Maria Speth realiza nessa obra maestral é uma jornada intimista, calcada no afeto.
O projeto é fruto da amizade entre Maria e o conterrâneo Dieter Bachmann, que por dois anos lhe deu acesso à sua sala de aula na Georg Buechner School, no município de Stadtallendorf. Há 17 anos ele ensina música, matemática, arte e alemão. A maioria da classe é formada por imigrantes ou filhos de imigrantes. São adolescentes de seus 13 anos, de origens diversas – Alemanha, Rússia, Bulgária, Marrocos, Itália, Turquia, Cazaquistão e até Brasil. A adaptação começa pela língua alemã, mas abrange do clima à cultura. Os desafios são muitos, mas essa garotada é sortuda demais por ter um figuraça como Bachmann no posto de professor.
A câmera de Maria Speth não se intromete na rotina, mas seu olhar é curioso, observador. Logo na chegada, Bachmann breca a tumultuada e barulhenta entrada da turma. Divertido, ele ordena: “Vamos tentar mais uma vez, agora em silêncio”. Não há um fio de animosidade nessa ordem. É um comando lúdico e os alunos atendem sem resistência. Embora esteja na idade da rebeldia, essa moçada não é combativa. A educação e o respeito impressionam. No fundo, eles seguem o modelo e o ritmo desse sujeito boa praça, com alma de roqueiro, cujo desafio é decidir quais alunos estão prontos para o ensino técnico, quais devem cursar o ensino médio.
Seus métodos são deliciosamente heterodoxos e a afinidade que nasce da flexibilidade é tocante. A aula de música está rendendo conversas interessantes? Bachmann pula a próxima matéria para não interromper a troca com os alunos. O espectador descobre as particularidades de cada jovem junto com o professor. É um grupo díspar, mas distante dos tipos estereotipados dos filmes do gênero. Repare como a convivência faz o próprio Bachmann rever primeiras impressões, como o caso do aluno alemão com jeito de valentão, mas que durante uma excursão traz à tona sua face sensível e filosófica.
Desejo de pertencimento, problemas familiares e dramas pessoais ganham espaço naturalmente em diálogos descontraídos, em que se fala de sexo, preconceitos, sonhos, planos para o futuro e o que se encaixar com a matéria do momento. Através dessa dinâmica orgânica, a diretora dá um passo além da sala de aula e convida o espectador a pensar a Alemanha contemporânea diante do passado nazista, xenófobo, excludente e genocida. Há algo de mea-culpa nesse retrato? É o que parece, mas a tomada de consciência e o avanço para uma realidade construtiva – e construtivista no método de ensino – é admirável. O adorável Bachmann, que teve seu nome de família polonês mudado pelos nazistas, é a personificação de uma sociedade que evoluiu.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Sr. Bachmann e Seus Alunos/Herr Bachmann und Seine Klasse
Direção: Maria Speth
Duração: 217 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Alemanha, 2021
Elenco: Dieter Bachmann
Distribuição: Films Boutique
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