Você tem medo de que? O medo do escuro, talvez, é de todos o mais comum e rico em termos de intensidade. Afinal, é a “criatividade da vítima” que comanda as sensações. Skinamarink: Canção de Ninar mergulha você nesse universo e chega aos cinemas com a força de obras que, sem orçamentos milionários, se escoram no popular boca a boca, hoje muito mais para “post a post”. A produção virou sensação no TikTok. São mais de 60 milhões de visualizações das postagens com as duas hashtags mais populares sobre o filme na plataforma.
Para evitar estragar eventuais surpresas, melhor informar pouco sobre a história que envolve dois irmãos pequenos diante de experiências assustadoras, dentro da própria casa. Tão experimental quanto o curta Heck (2020), também de sua autoria e com a mesma pegada, Kyle Edward Ball estreia na direção e roteiro de um longa. A produção de baixíssimo orçamento – US$ 15 mil – estreou em um festival de fantasia canadense em julho de 2022. Depois de circular em outros eventos, uma cópia vazou para a internet e viralizou.
O enredo se passa nos anos 1990, tem referências da época e outras mais distantes. É o curioso caso dos clássicos desenhos animados Bimbo’s Initiation (1931), da série Betty Boop, e The Song of the Birds (1935), muito exibidos na TV de quem já passou dos 50 anos. A televisão, aliás, faz parte da trama, como aconteceu em outros sucessos do gênero, como Poltergeist (1982) ou O Chamado (2002). Aqui, ela foi usada de forma diferente e um misterioso defeito na fita VHS deixa determinadas cenas de uma animação, Prest-O Change-O (1939), em looping para causar estranhamento no público. Estranhos também são os enquadramentos com uma perspectiva, digamos infantil, onde predominam uma desconfortável visão das pernas e os pés ou quase sempre o alto das portas e paredes.
A falta de iluminação também causa desconforto. Dá uma textura diferente para as imagens e isso permite viagens visuais diversas no escuro e o consequente medo. Ao lado do constante apagar e acender de luzes ou da lanterna (famigerada companheira do pavor) tudo funciona. Contudo, a repetição cansa aqueles mais exigentes por um roteiro melhor elaborado. Se tem chance de permanecer interessante para uns, pode tornar-se extremamente maçante para outros.
Vale lembrar que essa pegada da experimentação e/ou inovação no gênero não é de agora. Alguns sucessos do passado, como A Bruxa de Blair (1999) ou Atividade Paranormal (2007), são provas cabais de que existe espaço e aceitação. O maior desafio desse experimento cinematográfico de agora, que não resistiu ao uso do jumpscare, é ter poder de envolvimento suficiente para segurar o pessoal da poltrona por mais de 90 minutos. Como curta, sem sombra de dúvida, as chances seriam maiores.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Skinamarink: Canção de Ninar / Skinamarink
Direção: Kyle Edward Ball
Duração: 100 minutos
PaÃs de Produção/Ano: EUA, 2022
Elenco: Lucas Paul, Dali Rose Tetreault, Ross Paul
Distribuição: A2 Filmes