Nos anos 1960, Wilson Simonal saiu da pobreza para se tornar um fenômeno da música popular brasileira com seu vozeirão afinado e swing de malandro. Introduzido por Carlos Imperial (Leandro Hassum)e depois apadrinhado por Miele e Ronaldo Bôscoli, Simonal teve uma ascensão meteórica, com direito a programa de TV e um contrato publicitário que foi o maior na história de um artista brasileiro na época. O que significava luxo, mansão, carrões. E ainda havia Tereza, a esposa burguesa, branca e loira, com quem teve três filhos.
O encanto acabou nos anos 70, por sua ligação com os militares, a condenação pelo sequestro do contador (que foi torturado no Dops) e as denúncias de delação de Gil e Caetano. Simonal ganhou a alcunha de Dedo Duro na mídia, foi difamado, execrado, teve a carreira destruída e viveu no ostracismo até o fim da vida – morreu em 2000, os 62 anos. É uma história trágica e tudo isso está na cinebiografia dirigida pelo estreante em longas Leonardo Domingues. Simonal não é poupado, mas seus atos são colocados à luz da história, sob o prisma do racismo e das fake news.
Fabrício Oliveira encarna o artista, mas não se arrisca no canto - a voz é a do original. Mais coragem teve Shay Suede ao assumir o vocal em Minha Fama de Mau, recente cinebiografia de Erasmo Carlos (disponível em streaming). O que não lhe falta, porém, é ginga e dramaticidade. “Que artista negro chegou aonde Wilson Simonal chegou, só o artista da bola, Pelé, ninguém mais”, questionou Boliveira na entrevista coletiva realizada no Festival de Gramado 2018. “A situação independe em que lado da política ele estava, se esquerda ou direita, porque quem é negão neste País tem de lidar com isso a vida inteira. Eles não aceitavam que fosse famoso e tivesse mansão e três Mercedes na garagem, pois mesmo hoje eu sou parado pela polícia por andar com carro importado”, completou o ator.
Isis de Oliveira brilha na pele de Tereza e retoma a parceria com Boliveira, sua dupla em Faroeste Caboclo. É também uma personagem sofrida. Aspirante à artista, Tereza era moderna, rejeitava a educação da família machista e queria uma carreira, só que acabou relegada ao papel de esposa (traída) de astro. “Foi barra pesada fazer a personagem, tive até enxaqueca, mas entendi que por trás daquela pessoa reprimida e anulada havia uma mulher forte que ficou ao lado do marido por um amor descomunal”, afirmou a estrela na mesma entrevista.
Embora a trama demore a engrenar, as atuações são superlativas e há a música, claro, com a trilha produzida e selecionada pelos filhos do cantor, Wilson Simoninha e Max de Castro. Sucessos como “Meu Limão, Meu Limoeiro”, “Nem Vem Que Não Tem”, “Mamãe Passou Açúcar em Mim” e “Sá Marina” vão fazer o público sair do cinema cantarolando. Quem ficar instigado pela turbulenta trajetória desse gigante da MPB deve assistir ao documentário Simonal: Ninguém Sabe o Duro que Dei (2009), disponível em streaming (Now).
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Simonal
Direção: Leonardo Rodrigues
Duração: 105 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Brasil, 2018
Elenco: FabrÃcio Boliveira, Isis Valverde, Leandro Hassum, Mariana Lima, Silvio Guindane, Caco Ciocler, Luciano Quirino
Distribuição: Downtown/Paris