Shadow

O chinês Zhang Yimou não faz filmes, faz pinturas cinematográficas. A estética onírica com que emoldura épicos dramáticos, bélicos, aventurescos ou românticos tem em seu legado obras únicas como Lanternas Vermelhas, Tempo de Viver, Herói e O Clã das Adagas Voadoras. Nem sempre, porém,  seus exuberantes afrescos estão a serviço de grandes histórias – que o diga o fraquinho A Grande Muralha, estrelado por Matt Damon e Willem Dafoe em 2016.

Shadow tem um enredo simples, mas com algo a dizer. Ambientado durante a era dos Três Reinos da China (220-280 DC), conta a história de um rei jovem, órfão de pais, mas bem acompanhado por uma irmã cheia de personalidade, que teve seu povo expulso da terra natal. Seu espírito, porém, é pacifista. Ele se basta com uma rotina de banquetes com danças e shows de arpa. E prefere oferecer a irmã como concubina ao filho do inimigo como agrado. Bem ao contrário de seu comandante, que tem sangue na veia e quer retomar o território no campo de batalha.

Um detalhe fundamental: o militar é na verdade um shadow, um “sombra”, como eram chamados plebeus que substituíam reis e aristocratas em tempos de perigo. O verdadeiro comandante, um mestre em artes marciais debilitado pela guerra, vive escondido em uma gruta dentro do palácio. Já o sósia, retirado da família ainda criança, guarda rancor da exploração, é apaixonado (e correspondido) pela patroa, e ainda assim se submete aos mandos do comandante.

No meio da pendenga entre governantes e governados, invasores e invadidos, quem se sobressai no olhar do cineasta são as mulheres. A irmã do rei, que decide pegar em armas para defender o próprio destino, e a esposa do comandante, que sugere um estilo marcial inédito para pegar o inimigo de surpresa – envolve um guarda-chuva, gestuais femininos e rodopios desconcertantes e potentes.

A ofuscante fotografia em preto e branco torna ainda mais intenso o ideograma yin yang que serve de palco dos duelos, com o poder da energia feminina a movimentar a energia masculina em um balé esvoaçante (e violento) que Zhang Yimou coreografa com maestria. A narrativa guarda algumas reviravoltas, mas o espetáculo de Shadow é visual. Para ver na maior tela possível.

Ficha Técnica

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