O diretor mexicano Alfonso Cuarón passou os últimos dez anos dedicado a grandes produções hollywoodianas como Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban e Gravidade – este último vencedor de 7 Oscar, entre eles o de melhor direção.
Roma é seu retorno triunfal à terra natal, e também seu filme mais pessoal. É a primeira produção da Netflix a ganhar um festival de renome como o de Veneza, do qual saiu com o Leão de Ouro.
Está no páreo pelo Globo de Ouro de filme estrangeiro e Cuarón ainda disputa as categorias de roteiro e direção. Mais: embora seja da plataforma de streaming, por ter entrado em cartaz em alguns cinemas americanos Roma pode disputar o Oscar 2019 e se tornar o primeiro longa falado em espanhol indicado a melhor filme.
Cuarón fez uma obra-prima. Disse em entrevistas que 80% das cenas vêm de suas memórias de garoto travesso no México da década de 70. Filmou em preto e branco vibrante e não granulado com cara de antigo, porque suas lembranças estão vívidas. A casa que abriga a família é uma réplica daquela em que passou a infância, e Roma nada mais é que o bairro de classe média alta em que ele cresceu.
O filme é uma homenagem a Libo, a antiga babá de Cuarón, que inclusive foi visitar os sets de filmagem e se pôs a chorar quando teve a percepção da dor que as crianças enfrentaram no período de um ano retratado na trama. No filme seu nome é Cléo, uma das duas empregadas de descendência indígena que moram no anexo do casarão.
É através do olhar dela que acompanhamos a rotina dos quatro filhos de Sofia e Antônio, e assistimos as transformações daquele núcleo quando o marido médico viaja para um congresso no Canadá. O que era para ser uma ausência temporária se revela um rompimento inesperado.
Também é por Cléo que nos damos conta do abismo entre as classes, uma situação que dialoga com a da doméstica feita por Regina Casé em Que Horas Ela Volta?. Cléo é querida, considerada membro da família, mas a realidade é bem diferente.
Sua vida pessoal ganha espaço, pois um romance terá desdobramentos complicados. Ela e a patroa unem forças para atravessar a tempestade e segurar as pontas com as crianças, que sentem a tensão no ar. A crise familiar encontra seu paralelo nas ruas, tomada por milícias do governo e por passeatas estudantis.
Cléo é a âncora desse clã. É a ternura, o afeto, a força braçal e um atestado da disparidade social no México. Mas, acima de tudo, é a doação em pessoa. Cuarón traduz tudo isso na magistral sequência na praia.
Embora seja protagonizado por mulheres, Roma não é feminista, mas sim feminino. É avesso a panfletagens. É humano, maravilhoso.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Roma
Direção: Alfonso Cuarón
Duração: 135 minutos
PaÃs de Produção/Ano: EUA/México, 2018
Elenco: Com Yalitza Aparicio, Marina de Tavira, Diego Cortina Autrey, Carlos Peralta
Distribuição: Netflix