Não dá para falar de Rocketman sem comparar a Bohemian Rhapsody. As cinebiografias dos contemporâneos astros do rock britânico saíram do forno quase juntas, mas não poderiam ser mais diferentes. E vale lembrar que Dexter Fletcher estava no comando de ambas – ele assumiu a direção de Bohemian na reta final, depois da demissão de Bryan Singer.
Em Bohemian Rhapsody há cantoria durante os shows da banda, Rocketman é um autêntico musical, estilo Broadway. Rami Malek (premiado com o Oscar) dubla as canções do Queen, Taron Egerton solta a voz em versões pessoais dos hits de Elton John. Freddie Mercury morreu em 1991, Elton John completou 72 anos. Talvez por isso, Bohemian Rhapsody seja mais chapa branca e comedido no retrato da intimidade do cantor. Já Rocketman tem produção do próprio Elton, que exorciza seus piores demônios abertamente, além de ter proibido que atenuassem as cenas de sexo homossexual e de consumo de drogas e álcool.
É justamente sua excêntrica chegada a uma terapia em grupo que abre o filme. Com uma pegada fantasiosa, o protagonista conta aos parceiros de reabilitação sua trajetória até ali. É assim que nos apresenta Reginald Kenneth Dwight, nascido em 1947 em um bairro proletário de Londres, filho único do frio e desinteressado Stanley (Steven Mackintosh) e da egoísta e mestra na arte da depreciação Sheila (Bryce Dallas Howard). Não é preciso ser Freud para concluir que a carência de amor foi a raiz da personalidade autodestrutiva do artista.
Por sorte, ele recebia apoio da avó, Ivy (Gemma Jones), que o levava às aulas de piano na Royal Academy of Music, onde Reginald se revelou um virtuose no teclado e de onde saiu para se tornar Elton John, ídolo pop e milionário. Sucessos como “Your Song”, “Tiny Dancer”, “I Want Love”, “Don’t Go Breaking My Heart” e, claro, “Rocketman” se encaixam harmoniosamente no enredo, ora em diálogos cantados, ora em números musicais belamente coreografados.
A amizade e parceria de vida toda com o compositor Bernie Taupin (Jamie Bell) e o tempestuoso romance com o empresário John Reid (Richard Madden) – a banda Queen também era sua cliente – , ajudam a costurar uma trama ágil, que mescla fantasia e realidade, e não perde o foco em seu problemático e fascinante biografado.
É estranho, contudo, que por mais franca e ousada seja a abordagem, há poucas sequências realmente emocionantes – nenhuma tão apoteótica quanto a reconstituição do show do Queen no Live Aid. Para quem saiu com os olhos molhados de Bohemian Rhapsody, há uma certa frustração.
A questão é que Freddie Mercury morreu precocemente e a dor para o fã vem à tona. Elton John vive um novo momento de glória. Foi celebrado no Festival de Cannes, está sóbrio, casado há uma década com David Furnish e é pai de duas crianças. Seu passado foi barra pesadíssima, mas o presente parece iluminado. O sentimento que prevalece é de alegria. No caso do líder da banda Queen, é de saudade.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Rocketman
Direção: Dexter Fletcher
Duração: 121 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Reino Unido/EUA, 2019
Elenco: Taron Egerton, Jamie Bell, Richard Madden, Bryce Dallas Howard, Gemma Jones, Steven Mackintosh
Distribuição: Paramount