Papicha

Producão argelina que tentou uma vaga no Oscar 2020 de filme internacional, Papicha é baseado em fatos verídicos ocorridos na Argélia de 1990, época conhecida como Década Negra. O país, de colonização francesa, estava à mercê de grupos terroristas dispostos a instalar o Estado Islâmico no poder. A roteirista e diretora estreante Mounia Meddour é argelina e vive exilada na França desde os 18 anos, quando seu pai, cineasta, foi ameaçado de morte. Ela estudou numa universidade exatamente como sua protagonista, Nedjma (Lyna Khoudri, que integra o elenco do novo filme de Wes Anderson, The French Dispatch).

Nedjma tem 18 anos, estuda Língua Francesa e é estilista amadora. Independente e de forte personalidade, vende suas criações no banheiro das boates que frequenta. Depois de uma tragédia familiar, Nedjma decide organizar um desfile de vestidos feitos de haik, uma vestimenta típica do Magrebe, mas o evento não termina bem. Parece uma história simples, mas a diretora Mounia e seu excelente elenco a vestiu de beleza, realismo, sentimento e complexidade.

O simbolismo de uma jovem fascinada por moda em um país em que há campanhas públicas para as mulheres se cobrirem e usarem burca já diz muito. Nedjma conta com o apoio e o incentivo de suas amigas-irmãs: Wassila (Shirine Boutella), que foi seduzida por um jovem machista; Kahina (Zahra Doumandji), que quer sair do país a todo custo; e Samira (Amira Hilda Douaouda), a mais tradicional das quatro, que usa hijab (lenço para cobrir a cabeça e o peito em público), mas canta rap. O ambiente sóbrio e vigiado da universidade é constantemente assombrado por um grupo de mulheres islâmicas radicais e violentas.

Todas essas histórias vão se interpenetrando num amplo mosaico narrativo tecido de lindas imagens, tensão crescente, indignação e amizade, sofrimento e amor. As fronteiras entre o privado e o público se dilatam, enquanto os limites entre a liberdade e a opressão se estreitam. Papicha, que significa garota bonita, como Nedjma é chamada algumas vezes, não é só um filme de resistência política, um grito estético contra a opressão feminina – é também a história de uma jovem e corajosa mulher que ousa sonhar.

Ficha Técnica

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