On the Rocks

Sofia Coppola, é inegável, consolidou um estilo próprio para a sua carreira de cineasta. Neste seu nono trabalho, On The Rocks, mantém sua impressão autoral no triplo papel de roteirista, produtora e diretora. Além disso, volta à parceria bem-sucedida com o veterano Bill Murray (Zumbilândia), que deu a ela o Oscar de melhor roteiro, e a ele, sua única indicação à estatueta de melhor ator, com o adorável Encontros e Despedidas (2003).  

Os dois voltaram a se encontrar antes no charmoso A Very Murray Christmas (2015), coprodução da Netflix, da qual também participou Rashida Jones (Klaus). A atriz agora é a protagonista Laura, escritora, mas com bloqueio criativo, casada com o empreendedor digital Dean (Marlon Wayans, Seis Vezes Confusão), mãe de duas filhas fofíssimas. Solitária com as constantes viagens do marido a negócios, ela suspeita que ele esteja tendo um caso com uma colega de trabalho.

Laura acaba desabafando com seu pai, Felix (Murray), marchand nas horas vagas, um “filósofo” playboy incorrigível. Afetuoso à sua maneira, Felix decide ajudar Laura a investigar a suposta traição do genro, o que os leva a situações cada vez mais absurdas. Fincada na tradição do screwball, comédia de situações um tanto amalucada, Sofia Coppola burila os diálogos entre pai e filha com ternura, e o ritmo, com suavidade. Brinca com assovios e encena uma metáfora óbvia, mas bela, sobre o tempo.  

Murray está no seu elemento com o perfil sarcástico e sofisticado de Felix, mas não chega a jogar sombra na atuação de Rashida, habituada ao registro cômico da série Parks & Recreation: Confusões de Leslie, que às vezes lembra a Diane Keaton da parceria com Woody Allen. Jenny Slate (Um Laço de Amor) faz uma participação especial divertida como a conhecida  de Laura que despeja confissões de casos e máximas de autoajuda.  

Nova York em toda a sua beleza e exuberância, com direito a jantar no Midtown’s 21 Club, na mesa que um dia foi de Humphrey Bogart e Lauren Bacall, é uma personagem do filme, captada pelo olhar estrangeiro da sensível fotografia do francês Philippe Le Sourd (O Estranho que Nós Amamos). A trilha sonora, deliciosamente chique, com direito a Chet Baker, é da banda Phoenix, também francesa, cujo vocalista, Thomas Mars, é marido da cineasta.

Entretanto, Sofia Coppola tornou-se refém de seu estilo, e talvez do tempo, em On the Rocks. É curioso como a história de conflitos pessoais de privilegiados sociais, às voltas com obras de arte, carros conversíveis, restaurantes badalados e o inevitável caviar, soa artificial e até datada. Parece um portal para um lugar, um tempo e um modo de vida de outro mundo, talvez do mundo antes da pandemia. Se o filme traça uma personagem feminina complexa às voltas com os inúmeros papéis da mulher na sociedade contemporânea, o desfecho romântico é de uma condescendência difícil de engolir, on the rocks ou não.

Ficha Técnica

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