O Som do Silêncio

Em 2017, Riz Ahmed (Venon) tornou-se o primeiro artista de ascendência sul-asiática a vencer um Emmy de melhor ator, pela série The Night Of, disponível na HBO Go. Descendente de paquistaneses, o britânico de 38 anos era pouco conhecido do grande público até estrelar O Som do Silêncio/Sound of Metal. A produção da Amazon não só o colocou na disputa ao Oscar 2021 de Melhor Ator, como ainda concorre nas categorias Melhor Filme, Ator Coadjuvante (Paul Raci), Som, Roteiro Original e Edição. Ahmed entrega uma atuação visceral, minimalista, artesanal, tão excepcional que causa espanto.

Seu personagem, Ruben, é baterista de uma banda de rock pra lá de pesado. O som que ele e a namorada, Lou (Olivia Cook, Jogador Nº 1), produzem é feito dos gritos esganiçados dela e da furiosa percussão dele. Ruben e Lou vivem on the road, a bordo de um trailer. Eles compartilham histórias de superação que o enredo não esmiúça, mas sabe-se que os quatro anos juntos correspondem ao tempo dele distante da heroína e dela, das automutilações. De um dia para o outro, porém, Ruben fica praticamente surdo.

A causa é incerta e o prognóstico não é bom. A chance de recuperar a audição depende de um implante, e a cirurgia custa em torno de US$ 80 mil. Para ele, é a única solução possível, mas enquanto não se viabiliza, Ruben precisa se adaptar e vai viver longe de Lou, em uma comunidade só para surdos. Indicado a melhor coadjuvante, Paul Raci faz Joe, o diretor da instituição. É ele, com sua fala mansa e terna, que vai convencer o avesso Ruben a aprender a linguagem dos sinais, a encarar o próprio drama e, por fim, a interagir com outros deficientes auditivos. Chega um momento, porém, em que o roqueiro decide vender tudo o que tem para operar e ir atrás de Lou.

O Som do Silêncio é escrito e dirigido por Darius Marder, a partir de uma história de Derek Cianfrance, o nome por trás de dramas pungentes como Namorados Para Sempre e O Lugar Onde Tudo Termina - estrelados por Ryan Gosling (La La Land) e, este último, coescrito por Marder. Em um trabalho fenomenal, o compositor e engenheiro de som Nicolas Becker (A Chegada) faz o espectador ouvir os mesmos sons abafados que o protagonista, mas também escutar os silêncios dessa jornada intimista.

Nem tudo é perfeito. Falta ritmo e sobram clichês de tramas de superação, principalmente no período na comunidade. O reencontro com Lou é emocionante, mas apressado. Já o desfecho é dos mais inspirados. O Som do Silêncio tem falhas, mas beira o sublime. É possível? Sim, por conta de um protagonista que acerta todas as notas. Guarde o nome dele: Riz Ahmed.

Ficha Técnica

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