O Silêncio do Céu

Começa com um estupro. A câmera está rente ao rosto de Diana (Carolina Dieckmann). Há fragmentos de seu corpo, o movimento de seus violadores, a voz baixa, um olhar. O sofrimento é palpável. Quando tudo acaba, Diana liga para o marido, Mario (Leonardo Sbaraglia, Legado nos Ossos), e pede que ele busque as crianças na escola. Ele pergunta se está tudo bem, ela diz que sim. Mario sabe a verdade. Estava do lado de fora da casa quando ouviu o ataque. Foi incapaz de reagir, petrificado pelo medo.

Assim como em Trabalhar Cansa e Quando Eu Era Vivo, no premiado O Silêncio do Céu o diretor Marco Dutra transita pelo ambiente doméstico, porém não mais no registro fantástico e sim no terreno do thriller psicológico. Inspirado na obra Era El Cielo, de Sergio Bizzio, o cineasta examina a relação desse casal incapaz de verbalizar o trauma, e explora como o segredo age sobre cada um deles. O espectador vê a situação pelo olhar de Mario e de Diana.

Embora a questão central seja a trava verbal, o enredo ganha vigor pelo plano de vingança de Mario contra os violadores. Carolina Dieckmann capricha no espanhol e o elenco internacional ainda tem o argentino Chino Darín (Odisseia dos Tontos) em um papel sombrio. A narração em off é desnecessária, redundante. Mas a montagem é dinâmica e faz a alternância dos pontos de vista, uma artimanha que reforça o suspense e a tensão.

Curiosidade de bastidores: foi ideia da atriz a hora em que Diana olha para o teto durante o estupro. “Quando ela vê aquele teto branco, é como se quisesse sair do próprio corpo até aquilo acabar, mas em alguns segundos está de volta de forma brusca, como alguém que está se afogando e volta à superfície”, explicou Carolina em entrevista na época da estreia. O resultado é muito forte. 

Ficha Técnica

Assista Agora!