O Rio do Desejo

No universo do poliamor, eles formariam um quadrisal, no estilo Dona Flor e seus três (!) maridos. Mas os irmãos vividos por Daniel de Oliveira (Morto Não Fala), Gabriel Leone (Eduardo e Mônica) e Rômulo Braga (Sol) não sabem como lidar com o furor da mulher de espírito livre interpretada por Sophie Charlotte (Todas as Mulheres do Mundo) em O Rio do Desejo. Essa beleza do cinema nacional se agiganta na tela grande. A exuberante natureza e o calor escaldante do Amazonas abraçam esses seres que amam demais. Nada é simples na equação que começa a dois, com o casal formado por Daniel e Sophie, marido e mulher também na vida real.

Ele é Dalberto, que abandona o trabalho na polícia e investe tudo em um barco ao se apaixonar por Anaíra. Sophie brilha como essa mulher doce e sensual, que seduz sem esforço. Os pombinhos passam a morar na casa que ele divide com os dois irmãos, e Anaíra torna-se o raio de luz sobre esses homens assombrados pelo abandono da mãe. “É a vida versus pulsão de morte, repare que ela sempre abre as janelas”, diz o diretor Sérgio Machado em papo com OQVER, ao lado de sua estrela e Rômulo Braga, que faz o irmão mais velho – veja vídeo a seguir.

Um acidente com o barco obriga Dalberto a assumir um trabalho extra, com gente perigosa, em uma longa viagem até Iquitos, no Peru. Sua ausência faz aflorar desejos proibidos, e a trinca que ficou é discretamente observada pela senhora que cuida dos “meninos” desde pequenos. Dalmo (Braga) trabalha no laboratório fotográfico que era do pai, e sofre para conter a atração pela cunhada. Armando (Gabriel Leone), o caçula, é músico, tem ginga, e chega junto de Anaíra sem cerimônia. A volta de Dalberto põe sobre o mesmo teto três homens desnorteados pela paixão. Será que vai dar ruim?

Famoso por Cidade Baixa, selecionado para a Mostra Um Certo Olhar em Cannes 2005, o cineasta Sérgio Machado adapta o conto O Adeus do Comandante, de Milton Hatoum, um dos coautores do roteiro. Realiza uma obra sensorial, poética e dramática, que celebra o desejo feminino sem medo de causar. Apropria-se do território amazonense com um olhar fascinado pela fauna e a flora. Filma uma revoada de pássaros de arrepiar, que descobriu ser rotineira em suas vivências pelos cenários. Alocado em Itacoatiara, o elenco também imergiu. “Não ficamos com o roteiro na mão, nos ensaios vivenciamos as situações, para através delas voltar ao texto”, explica Sophie. “Foi um processo muito físico, o calor muda a relação com o corpo.” O resultado é cinema à flor da pele.

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