Morto Não Fala

Stênio (Daniel de Oliveira) é plantonista noturno do Instituto Médico Legal (IML) e conversa com os mortos. Morto Não Fala revela esse dom de cara. É um papo rápido, como um último suspiro antes de fechar os olhos para sempre. Esse eco do além não deve chegar ao mundo dos vivos, sob pena de o língua solta ser amaldiçoado. E Stênio ouve muitas indiscrições.

Se o ambiente e o horário de trabalho não são os mais saudáveis, em casa o cenário também está tóxico. Stênio vive na periferia de São Paulo. Gente simples, trabalhadora, mas sem perspectivas. A esposa (Fabiula Nascimento) expressa claramente a ojeriza pelo marido, e o casal de filhos (Cauã Martins e Annalara Prates) anda meio rebelde, principalmente o garoto, que acha o pai um “looser” e dá sinais de que pode entrar para o crime.  

Não tá fácil pra ninguém, e é esse problemático quadro social que o diretor e corroteirista Dennison Ramalho desenha com cores fortes, para então inserir o drama familiar no universo sobrenatural. Stênio ouve de um conhecido morto que o dono da lanchonete da esquina (Marco Ricca) está de caso com sua mulher. O que o chifrudo faz? Usa outra informação vinda de um cadáver para armar uma vingança. Rompe, assim, o pacto, quebra a ética entre vivos e mortos e vai pagar por isso, mas não só ele – sobra para os filhos e para a bondosa vizinha (Bianca Comparato), que o ajuda com as crianças.

Morto Não Fala é uma legítima história de fantasma, um terror gore, sanguinolento, feito por quem respira o gênero desde sempre. Ramalho foi assistente de direção e escreveu com José Mojica Marins o roteiro de Encarnação do Demônio (2008), último filme do Zé do Caixão. Mas antes disso já ganhava muitos prêmios com seus curtas – disponíveis no Porta Curtas. Fascinado por necrotérios e interessado na atividade do cuidador de cadáver, o cineasta encontrou no conto homônimo do jornalista policial Marco de Castro a matéria-prima para seu primeiro longa. Na verdade, o projeto original era uma série para a Globo, mas a emissora temeu que o público da TV aberta não estivesse pronto para um programa de terror. O importante é que o filme está aí, e merece ser visto. 

Na entrevista em vídeo a seguir, Ramalho fala de sua fascinação mórbida por necrotérios e pelo terror. Já o protagonista Daniel de Oliveira conta como foi estrear no gênero e revela detalhes dos efeitos especiais que lhe permitiram papear com os mortos. 

Ficha Técnica

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