O Reencontro

A sueca Anna não foi convidada para o encontro de 20 anos de formatura de sua classe na escola. Mas aparece mesmo assim. Mulher bonita e artista de sucesso no audiovisual, ela está ali para confrontar seus bullies, aqueles que transformaram seus anos formativos em um período de terror. Isolamento, humilhação e tormentos de todo tipo quase lhe tiraram a razão - ou talvez tenham-na deixado louca mesmo. Anna encara cada um deles e traz à tona detalhes de episódios dantescos.

Essa primeira etapa de O Reencontro tem um título: O Discurso. A celebração se transforma em uma tensa lavagem de roupa suja. São poucas as ex-colegas que vão ampará-la, sinal de que nem sempre o ser humano evolui. Causa espanto maior, porém, a posição negacionista do grupinho dos meninos “populares”, agora homens adultos e, muitos deles, pais de família. A incapacidade de olhar para os próprios erros gera uma reação violenta tanto de Anna, que se vê frustrada na tentativa de apaziguar o passado traumático, quanto de seus algozes. É uma pancada, e a clássica justificativa “éramos todos crianças” não cola diante da falta de empatia generalizada.

A segunda etapa de O Reencontro chama-se As Reuniões. Há uma revelação que desconstrói muito do que se viu no capítulo anterior. O espectador se vê manipulado por um instigante jogo de cena entre realidade e ficção. Sem dar spoiler, dá para adiantar que Anna Odell, a protagonista, é também a diretora e corroteirista, que estaria (ou não) interpretando a si mesma. A experiência metalinguística que ela propõe é incômoda e provocadora. Anna coloca-se como instrumento para investigar o comportamento do outro, e arranca sem dó o verniz da sociedade sueca.

O Reencontro foi o filme de estreia da cineasta, que venceu o Grande Prêmio da Crítica na mostra paralela do Festival de Veneza 2013, voltada para novos realizadores. Sem formação em cinema, Anna Odell é uma voz autoral, independente e tão inovadora que já foi chamada de “enfant terrible” da nova geração de cineastas suecos. Em seu filme mais recente, X&Y (2018), ela reuniu ninguém menos que a dupla Trine Dyrholm (Rainha de Copas) e Mikael Persbrandt (Em Um Mundo Melhor) para explorar a identidade feminina e masculina. Que a Supo Mungam inclua esse em breve no catálogo!

Ficha Técnica

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