segunda, 23 de junho de 2025
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O Poço


O Poço
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Netflix

O diretor espanhol Galder Gaztelu-Urrutia conseguiu exatamente o que queria com seu primeiro longa-metragem, O Poço: chocar e ganhar visibilidade entre as produções originais da Netflix. É enorme o burburinho ao redor dessa ficção distópica, que ensaia ser uma pungente crítica à desigualdade social e ao individualismo. Ensaia apenas, porque o cineasta usa recursos tão apelativos e asquerosos que a mensagem se perde em meio ao grotesco espetáculo que ele promove em pouco mais de 90 minutos.

O protagonista Goreng (Ivan Massagué) passa por uma entrevista de seleção para entrar no poço, por vontade própria e sem saber ao certo com o que irá se deparar. Seu objetivo é parar de fumar e ter tempo para ler o clássico Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. O poço não passa de uma prisão vertical com centenas de andares, uma cela por nível, dois internos por cela. No meio há um elevador, na verdade uma plataforma de concreto que percorre todos os pisos diariamente e sob o qual o alimento é transportado.

O Poço

Os presos dos andares superiores são os primeiros a ter acesso a um banquete primorosamente preparado por uma equipe enorme. A “pegadinha” do cineasta é que a comida se torna escassa a cada parada, logo quem está nos pisos inferiores comem restos, até aqueles que morrem de fome ou.... se alimentam do companheiro. Todo mês essa lógica muda com um gás que bota os sobreviventes para dormir, quando se faz a troca de andar e de parceiro. Então quem estava quase morto no piso 200, por exemplo, pode acordar na fartura do 8. Por quê? Não pergunte, pois não há resposta.

Em uma das paradas, Goreng convive com uma mulher determinada a convencer os outros a comer apenas um pouco, assim haverá alimento para todos e o problema está resolvido. Para bom entendedor, faça a sua parte, pense no outro e o mundo pode se tornar um lugar mais justo, melhor. Muito bem, mas essa pertinente alegoria não passa de uma sessão de carnificina nojenta e nauseante, com personagens vazios que servem de fantoches nas mãos de um diretor desvairado. A melhorzinha é uma oriental que diz estar ali atrás da filha, e faz um estrago em sua busca.

O Poço

Vamos ser justos, a ambientação impressiona e o humor negro dá um certo frescor à narrativa. Mas o enredo é pretensioso e “óbvio”, como diz repetidamente um dos personagens. O Poço tem muita pompa e pouca circunstância.




Trailer

Ficha Técnica

Título: O Poço/El Hoyo
Direção: Galder Gaztelu-Urrutia
Duração: 94 minutos

País de Produção/Ano: Espanha, 2019
Elenco: Ivan Massagué, Zorion Eguileor, Antonia San Juan
Distribuição: Netflix

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Suzana Uchôa Itiberê

Suzana Uchôa Itiberê

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Cinéfila incorrigível, jornalista de plantão, crítica de cinema (não muito) chatinha e editora caprichosa. Cria do jornal O Estado de S. Paulo, trabalhou nas revistas TVA, Set, Istoé Gente e foi cofundadora da revista Preview. Membro da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema).