O Menino que Fazia Rir

É impossível não se encantar com a história de Hans-Peter (Julius Weckauf), o garotinho de 9 anos, rechonchudo e engraçado, rodeado de uma família amorosa que mora no então ainda bucólico Vale do Ruhr, na Alemanha de 1971. Hans-Peter vai se transformar em um dos comediantes mais populares e amados do país, Hape Kerkeling. O Menino que Fazia Rir poderia ser apenas um filme biográfico sobre as origens do humorista e a arte da comédia, o que já seria curioso, mas expande consideravelmente seus horizontes para se tornar uma obra memorável e afetuosa sobre os percalços da infância e o inevitável papel da família nas experiências e nas memórias desse período.

O caçulinha do jovem e apaixonado casal Margret (Luise Heyer, O Que Restou da Minha Vida) e Heinz (Sönke Möhring, Impossível) nem tem tempo para sentir a ausência do pai em suas constantes viagens de trabalho, tal o carinho da mãe, dos avós e do irmão mais velho. Desde muito pequeno, Hans-Peter já queria “estar na televisão” e divertir a família, com um olhar precocemente atento às pessoas para depois imitá-las graciosamente nas alegres festas familiares.

É esse olhar de Hans-Peter que apresenta e conduz a história com tons mais sombrios a partir da mudança da família do campo, da casa dos avós paternos, para a cidade, na casa dos avós maternos. A adaptação ao novo bairro e à nova escola exige ajustes e nem sempre é amigável, mas é em casa que a situação fica cada vez mais difícil, com a doença da avó durona e a depressão da mãe. É quando o garoto descobre que há situações que nem o riso consegue amenizar – a história de seu avô logo após a Segunda Guerra faz ainda mais sentido.

O roteiro é adaptado da autobiografia best-seller do comediante, com as linhas mestras para a narrativa memorialista. A competente diretora Caroline Link, vencedora do Oscar de filme estrangeiro por Lugar Nenhum na África (2001), realiza uma obra agradável, sensível e de grande delicadeza. À frente de uma produção muito bem cuidada na reconstituição de época, nas locações, na fotografia, a cineasta transita com clareza e equilíbrio entre as faces dramáticas e cômicas da história, acrescenta outras mais sutis que lhe dão um tom nostálgico agridoce, e aproveita ao máximo o talento de seu elenco, com destaque para o carismático Julius Weckauf como Hans-Peter.  

Ficha Técnica

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