O Menino e a Garça

Favorito ao Oscar de animação, O Menino e a Garça deve selar a aposentadoria do mestre Hayao Miyazaki no Studio Ghibli, do qual foi cofundador em 1985. O criador de animações consagradas como o vencedor do Oscar A Viagem de Chihiro (2001), e os também indicados O Castelo Animado (2004) e Vidas ao Vento (2014), levou sete anos para finalizar essa obra banhada por sua história pessoal.

O desenho em 2D mantém o requinte ímpar de Miyazaki, novamente embalado pelos acordes de Joe Hisaishi, desta vez com uma composição para piano que é pura delicadeza. Diferente de Miyazaki, cuja mãe faleceu idosa, o protagonista, Mahito, é criança quando perde a mãe, vítima do conflito no Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial. O início trágico pode afugentar o público infantil, embora a fantasia reine na etapa seguinte.

Mahito deixa Tóquio para ir morar na casa de campo de Natsuko, sua tia materna, que agora espera um bebê de seu pai. Situação complicada, que Miyazaki explora em um universo paralelo repleto de simbolismo. Uma nem tão formosa garça será o elo entra o real e o fantástico. A estranha e falante ave leva o garoto até uma torre misteriosa, na verdade um portal para esse mundo onírico onde o tempo é relativo e no qual habitam humanos, animais antropomórficos e seres celestiais.

Vida e morte, perda e encontro, aceitação e maturidade, sofrimento e responsabilidade. É complexo e desafiador para todas as idades. Às vezes cansativo, outras vezes fascinante. O Menino e a Garça é rito de passagem do personagem e de seu criador, que se debruça sobre a própria existência com a humildade de um ser em evolução. O mesmo se diz de seu olhar sobre o mundo, que ele retrata e critica com pena lírica e aquarela de cores suaves.

Inspirado no pai de Miyazaki, o pai de Mahito é um homem de posses, diretor de uma fábrica de peças para os caças de combate. O poder bélico e as forças do imperialismo são notáveis nos dois mundos de O Menino e a Garça. Miyazaki se posiciona sem panfletar e ainda surpreende. Com a sabedoria de seus 83 anos, completados em 5 de janeiro, o já lendário animador se revela esperançoso de um mundo em redenção.  

Ficha Técnica

Garanta seu Ingresso!