O Lobo de Wall Street

Martin Scorsese sempre foi um cineasta destemido. Perambulou pelo submundo do crime com desenvoltura em Os Bons Companheiros, Os Infiltrados e, recentemente, na produção da Netflix O Irlandês. Também investigou a complexidade humana em Taxi Driver e Ilha do Medo, e retratou a sociedade do passado em Gangues de Nova York e A Época da Inocência. Mas nunca esbanjou tanta coragem quanto em O Lobo de Wall Street, indicado a 5 Oscar e vencedor do Globo de Ouro de melhor ator em comédia ou musical.

A cena inicial, com o personagem de Leonardo DiCaprio sugando droga diretamente do traseiro de uma mulher, é só um indicativo das loucuras que estão por vir. Depois de 11 anos de parceria, nesta quinta empreitada juntos o diretor e DiCaprio atingem a simbiose perfeita, uma sintonia que lhes dá poder para caminhar pelos terrenos mais minados.

Pois é o que eles fazem na adaptação da autobiografia de Jordan Belfort, um jovem e ambicioso corretor da Bolsa de Nova York. Nos anos 90, ele fez fortuna à base de corrupção e falcatruas, e viveu “la vida loca” ao pé da letra até a derrocada. Jonah Hill (O Homem Que Mudou o Jogo) foi indicado ao Oscar de coadjuvante pelo papel do braço direito do protagonista, mas quem causou sensação foi Margot Robbie (Era Uma Vez em... Hollywood), com a sensualidade pulsante em seu primeiro papel de destaque no cinema.

O Lobo de Wall Street provocou certa controvérsia pelo fato de o enredo seguir o ponto de vista de Belfort, um sujeito hedonista, bem-humorado e absolutamente amoral, que se regozija ao narrar sua epopeia de crime e libertinagem. Scorsese foi acusado de glorificar seu anti-herói quando, na verdade, ele usa os excessos da irretocável atuação de DiCaprio para chegar ao limite da sátira. É pura ironia.

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