Com os irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne não tem enrolação. É papo reto, sem atenuantes, direto no ponto e muita crítica social. A dupla de diretores e roteiristas belgas já falou de tráfico de imigrantes (A Promessa), paternidade precoce (A Criança), vício em drogas (O Silêncio de Lorna), abandono (O Garoto da Bicicleta), desemprego (Dois Dias, Uma Noite), ética médica (A Garota Desconhecida). Em O Jovem Ahmed, vencedor da Palma de melhor direção em Cannes 2019, o tema da vez é o radicalismo islâmico.
Independente do assunto, o foco primordial dos Dardenne é sempre o ser humano, e agora eles aproximam sua câmera naturalista de Ahmed (Idir Bem Addi), adolescente belga de origem árabe. “Um muçulmano de verdade não aperta a mão de uma mulher”, ele diz ao evitar o toque da professora que o ajudou a superar a dislexia. A mãe, Ahmed repreende por não cobrir os cabelos com o hijab e a irmã ele chama de vadia mesmo. O rapaz está obcecado pelos ensinamentos do imã da mesquita, e tem como ídolo um primo que se sacrificou por Alá.
Em uma ação aflitiva, Ahmed comete um crime e vai parar em um reformatório juvenil – é um lugar de sonhos se comparado às unidades para menores no Brasil. A reflexão proposta aqui é o quanto o acompanhamento psicológico, o distanciamento dos doutrinadores e o contato com pessoas diferentes são efetivos na reabilitação de alguém como Ahmed. O enredo não alivia a tensão em nenhum minuto, porque os atos do garoto são imprevisíveis. Mas os Dardenne não se intimidam e dão seu veredicto no último instante, com uma sequência que deixa o espectador sem respirar.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: O Jovem Ahmed/Le Jeune Ahmed
Direção: Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne
Duração: 90 minutos
PaÃs de Produção/Ano: França/Bélgica, 2019
Elenco: Idir Ben Addi, Olivier Bonnaud, Myriem Akheddiou, Imam Youssouf
Distribuição: Imovision