O Iluminado

Na história do cinema há algumas unanimidades, e uma delas recai sobre a genialidade e o perfeccionismo de Stanley Kubrick (1928-1999). Em 48 anos de carreira, o cineasta bissexto realizou 13 longas-metragens e deixou sua marca impressa em cada gênero, do épico Spartacus à ficção científica 2001: Uma Odisseia no Espaço, sempre no triplo papel de produtor, roteirista e diretor. Nas listas de melhores filmes de terror de todos os tempos, O Iluminado só perde o primeiro lugar, ocasionalmente, para O Exorcista (1973).

Do roteiro à construção dos magníficos cenários e às filmagens, realizadas no famoso Elstree Studios (Inglaterra), foram cerca de cinco anos de dedicação à produção. A adaptação do livro homônimo de Stephen King, escrita pelo diretor em parceria com a escritora Diane Johnson (À Francesa), não agradou o mestre do suspense. Nem o público, é bom lembrar. Mas Kubrick, como sempre, sabia o que fazia. Quando as majestosas tomadas aéreas e os acordes da inconfundível trilha sonora, durante os créditos iniciais, acompanham um fusquinha amarelo rumar por planícies ensolaradas e geladas montanhas até o hall de entrada do luxuoso e amplo Hotel Overlook, há uma promessa no ar.

Nas sequências seguintes, tudo fica claro. O dono do carro é Jack Torrance (Jack Nicholson), contratado para cuidar da manutenção da suntuosa edificação durante o rigoroso inverno, quando o resort permanece fechado. Jack é casado com a frágil Wendy (Shelley Duvall) e pai de Danny (Danny Lloyd), um garotinho de cinco anos com um amigo invisível bastante peculiar. Os três seguem pela mesma estrada para a temporada invernal no Overlook, palco de uma sangrenta tragédia familiar no passado, o que não parece incomodar Jack, decidido a aproveitar o isolamento do trabalho para escrever um livro.  

Mas incomoda, e muito, o amigo imaginário de Danny. Bem como o cozinheiro do hotel, Hallorann (Scatman Crothers), que reconhece no garotinho a mesma ‘sensibilidade’ para se comunicar com outros mundos que só os ‘iluminados’ possuem. Hallorann alerta Danny para não se aproximar do (fatídico) quarto 237. Tarde demais. Com o passar do tempo, Jack começa a se comportar de maneira estranha, Danny a ter terríveis visões e ninguém vai escapar da maldição do Overlook.

Tudo é superlativo em O Iluminado, até as inúmeras histórias de bastidores e da criação de tantas sequências clássicas e icônicas – entre elas a cena do machado e da perseguição no labirinto. Mas nada ultrapassa o talento de Stanley Kubrick na arte da sugestão, seu domínio absoluto da linguagem do cinema e seu rigor estético, ainda que às custas da exaustão de sua equipe. Quem assiste à descida aos infernos da família Torrance jamais esquece. Prepare-se!

Ficha Técnica

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