O Hotel às Margens do Rio

Como falam e bebem os personagens de Hong Sang-soo, como o cineasta sul-coreano gosta de explorar o universo do cinema, e como ele é bom. Figura tarimbada dos festivais de Cannes, Berlim e Veneza, o autor de obras de arte como Certo Agora, Errado Antes (2015), A Câmera de Claire (2017) e O Dia Depois (2017) tem uma produção prolífica. São 24 longas em 24 anos de carreira. O cinema de Hong Sang-soo não segue os ditames da narrativa convencional. Daí ser tão desafiador e fascinante. O Hotel às Margens do Rio foi filmado em 15 dias durante o inverno de 2018. Os personagens apenas são. Passado e futuro não passam de citações e a impressão é de que pouco acontece, mas não se engane. A simplicidade é aparente.  

Mais melancólico que de costume, Sang-soo vislumbra a finitude através de um famoso poeta, hospedado em um hotel às margens do Rio Han a convite do proprietário. Ele espera a visita dos dois filhos, um deles diretor de cinema. Nós ouvimos seus pensamentos em off. Embora esteja saudável, sente que o fim está próximo. No quarto do outro lado do corretor está a atriz fetiche (e ex-amante na vida real) do diretor, Kim Min-hee. Sua personagem se refugiou ali por conta do fim de um romance atribulado, que pode explicar o machucado que tem na mão. Nós também ouvimos seus pensamentos, e ela também espera a visita de uma amiga, que vem consolá-la.

Uma ofuscante fotografia em preto e branco aumenta a sensação de frio do cenário nevado. Como sempre nos filmes do cineasta, os encontros são embalados por álcool e comida. Sentados no pátio com vista para o rio, pai e filhos fazem uma acerto de contas. O abandono paterno, o maldizer da mãe, os filhos no meio de campo. Não há amargura nesse reencontro e Sango-Soo usa dois brinquedos infantis para criar um pungente instante de ternura entre esses homens crescidos em busca da reaproximação. Enquanto isso, as duas amigas falam de trivialidades e dos homens de suas vidas. Esse núcleo feminino é um tanto figurativo e agrega pouco.

O link entre eles acontece através de um subterfúgio artificial, mas os diálogos compensam um enredo de frágil arco dramático. Talvez seja proposital. O hotel nada mais é que um ponto de parada, um momento de suspensão na jornada da vida, que segue na correnteza do rio que eles observam ao longe. Há simbolismo de sobra em O Hotel às Margens do Rio, mas no fim é o singelo olhar do cineasta sobre a família e a amizade que toca fundo o espectador.  

Ficha Técnica

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