Em julho de 2016, a jornalista e apresentadora do canal Fox News, Gretchen Carlson, processou o CEO da emissora, Roger Ailes, alegando ter sido demitida por rejeitar as investidas sexuais do todo poderoso do canal – um dos braços do gigante grupo de mídia 21st Century Fox, de Rupert Murdoch. Charles Randolph, vencedor do Oscar de roteiro por A Grande Aposta, transformou o caso em filme, dirigido por Jay Roach (Trumbo - Lista Negra). Coproduzido por ambos, e por Charlize Theron (Casal Improvável), O Escândalo venceu o Oscar de cabelo e maquiagem.
Embora interprete Gretchen, a primeira a delatar Roger Ailes, Nicole Kidman (O Pintassilgo) é personagem secundária. Quem ganha o protagonismo é a jornalista-advogada Megyn Kelly (Charlize). Os dilemas pessoais e profissionais de Megyn face à denúncia da colega Gretchen têm maior apelo dramático. Afinal, o horário nobre era dela, e os riscos à sua imagem, maiores. A jovem Kayla (Margot Robbie), millennial evangélica, deslumbrada e ambiciosa, a única personagem ficcional entre as protagonistas, está disposta a pagar o mesmo preço para trilhar o mesmo caminho de Megyn.
Três faces (loiras platinadas) de uma realidade cruel que tem ainda muitas outras faces – e camadas – ocultas. Embora necessário como denúncia e impecável na produção, o filme prefere trafegar na superfície do escândalo, e o resultado é uma ambiguidade incômoda, indigesta. O show não pode parar. Nem a câmera e a edição ariscas, pulando de sequência em sequência, de diálogo em diálogo, com a mesma urgência do telejornalismo moderno.
É notável que a única personagem exposta a uma cena de assédio, desconcertante aliás, é Kayla. Ainda que seja para proteger a imagem das jornalistas da “vida real” e um recurso para enfatizar o assédio, era mesmo necessária? Relegar a autora da ação ao segundo plano é também uma opção no mínimo curiosa. Estão no filme a crítica à misoginia em cascata, da esfera pública para a privada, do presidente à mídia. Mas por ser um filme sobre os bastidores da notícia, há muito pouco jornalismo e muito “showrnalismo”. Por ser tempos de movimento #metoo, Charlize precisou explicar, como produtora, por que o filme foi escrito e dirigido por homens – “não foi uma mulher que decidiu contar essa história”, disse a atriz. É isso, O Escândalo é prova de que já avançamos, mas ainda temos muito que caminhar.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: O Escândalo/Bombshell
Direção: Jay Roach
Duração: 109 minutos
PaÃs de Produção/Ano: EUA/Canadá, 2019
Elenco: Charlize Theron, Nicole Kidman, Margot Robbie, John Lithgow, Allison Janney, Malcolm McDowell, Kate McKinnon, Connie Britton, Mark Duplass
Distribuição: Paris Filmes